Durante a pandemia, as notícias que recebemos com alegria incluem não apenas o avanço da vacinação e diminuição dos casos de Covid-19, mas também a flexibilização do isolamento e a reabertura dos parques, com a possibilidade de caminhar ao ar livre no meio das árvores, ouvir o canto dos pássaros ou simplesmente contemplar o movimento da água num lago.
As restrições impostas aguçaram nosso desejo de estar em contato com a natureza, algo que nos traz sensações de bem-estar, relaxamento e vigor.
Essa percepção tem razão de ser. Estudos científicos, cada vez mais, atestam os benefícios da conexão com a natureza para a saúde física e mental. Entre outros, essa proximidade ajuda a reduzir a glicose no sangue, melhora a pressão arterial e a imunidade, diminui o estresse e promove estados de ânimo positivos. Em crianças, auxilia no desenvolvimento, inclusive em casos de déficit de atenção e hiperatividade.
No século 19, a enfermeira Florence Nightingale (1820-1910), que atuou na Guerra da Crimeia, já preconizava a importância de ar fresco, iluminação natural e banhos de sol nos cuidados dos doentes. Ela é a criadora da chamada Teoria Ambientalista. Na visita aos soldados feridos, Nightingale também levava seu jabuti de estimação, e observou que a presença do simpático réptil diminuía a ansiedade dos pacientes.
Nos anos 1980, um estudo do professor de arquitetura Roger Ulrisch mostrou que pacientes cirúrgicos alojados em quartos com vista para áreas verdes, em relação a quem não usufruía desse privilégio, tinham menor tempo de internação e requisitavam menos analgésicos, indicativo de que sentiam menos dor.
Seja na promoção da saúde ou no tratamento de enfermidades, intervenções baseadas na natureza ganham terreno. No Japão, são populares os banhos de floresta –caminhadas entre as árvores feitas lentamente e em silêncio. Inserida na rotina, a prática ajuda a regular a pressão arterial e a diminuir o estresse.
Na Escócia, médicos começaram a prescrever observação de pássaros e caminhadas na praia para ajudar no tratamento de transtornos mentais, diabetes e doenças do coração. Tamanha a crucialidade da relação entre natureza e saúde que o assunto se tornou pauta na COP26, a Conferência da ONU sobre mudanças climáticas.
Nesse cenário, pesquisas sobre o tema têm se multiplicado e, no Brasil, o Einstein é uma das instituições engajadas nesses estudos. O grupo multidisciplinar e-Natureza, por exemplo, mostrou que contemplar fotos da natureza pode gerar emoções positivas ou negativas, a depender da imagem.
A iniciativa resultou na criação do primeiro banco de imagens de natureza voltado à promoção de emoções positivas com finalidade terapêutica. Aplicado em pacientes em tratamento quimioterápico, contribuiu para reduzir dor, cansaço, tristeza e ansiedade.
Além de integrar organizações internacionais dedicadas ao tema, o Einstein promoveu recentemente um simpósio sobre o assunto e também é signatário da Declaração de São Paulo sobre Saúde Planetária, primeiro documento do tipo, publicado na revista The Lancet, no contexto dos preparativos para a COP15 (sobre biodiversidade) e COP26.
Mesmo deixando de lado a dimensão saúde, há outro aspecto importante: estudos mostram que, quanto maior o nível de relacionamento da pessoa com a natureza, mais envolvimento ela tem com comportamentos pró-ambiente. Como se vê, sustentabilidade e saúde podem e devem andar de mãos dadas.
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