Silvana Krause

É professora e pesquisadora de pós-graduação em ciência política na UFRGS; ex-bolsista da Fundação Konrad Adenauer

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Silvana Krause
Descrição de chapéu Eleições 2018

A velha política ainda resiste forte na eleição presidencial

O potencial chefe da Casa Civil, Onix Lorenzoni, já assumiu usou caixa dois

Esta eleição se caracteriza como o pleito da vingança e do ódio. É a oportunidade de fazer sua "festa" nas esquinas, expressando um prazer de fazer "justiça" assentada na pura vingança e não no castigo da pena. Um desejo de aniquilar diretamente o inimigo por meio de agentes de um populismo penal, uma versão pré-moderna que libera o uso da violência pela vontade individual, sem freios e contrapesos. 


O filósofo alemão Nietzsche oferece uma inspiração sobre os benefícios do esquecimento quando alerta: "a vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez". 

Existe benefício no esquecimento de coisas ruins? Esquecê-las não permite tentar evitá-las. A autoridade policial "esqueceu" como é o símbolo da suástica, marcada no corpo da moça em Porto Alegre por três valentões. O autor de doze facadas em Moa do Katendê em Salvador "esqueceu" que na democracia pode haver divergências; "esqueceu-se" que a ONU foi criada por vários países para dirimir conflitos entre os países; "esqueceu-se" que o Brasil é signatário voluntário de tratados internacionais. 

 

A ambiguidade em tempos bipolares é a tônica, verdades e mentiras são alteradas em velocidade ímpar nas redes sociais. 

Esta eleição não somente reflete o esgotamento do modelo da transição política negociada, mas também a persistência de alternativas que reproduzem estilos já conhecidos. O antipartidarismo, o antipetismo e a antipolítica se manifestaram de forma acirrada nesta eleição. São oferecidas soluções simples e sem debates a um eleitor cansado e afogado numa tsunami de boatos.

Há dois sentidos do boato para a construção da omissão com o passado e do ódio na política. Um é satisfazer o desejo do eleitor de ser seu próprio produtor de "verdades": escolhe a mais conveniente com suas crenças. 

Ele é livre e soberano nas redes sociais para construir a realidade que deseja. Outro sentido é o alvo de uma máquina de comunicação nas redes sociais que desmonta o conhecimento acumulado sobre o passado recente e assim liberta o compromisso com a democracia construída a duras penas. 

A velha política resiste. Como? Temos um presidenciável "velho" na política, que troca de partido como a maior parte da classe política. Fez escola em seis partidos (PDC, PPR, PTB, PFL, PP, PSC), legendas conhecidas do mensalão e da Lava Jato, participantes em governos à direita e à esquerda. 

Agora instrumentaliza o ex-nanico PSL, igualmente envolvido com a Lava Jato. Virou um "partido relâmpago" tendendo a desaparecer no caso de um governo com baixa aprovação em um Congresso fragmentado com 30 partidos. 

Será o segundo maior partido na Câmara dos Deputados e já fragilizado. Houve o abandono de várias lideranças do PSL pertencentes ao movimento "Livres" em função da filiação de Bolsonaro. 
O argumento foi que o candidato não era liberal, tanto nos costumes quanto na economia. O racha continua na campanha. Em Sergipe o candidato derrotado do PSL apoia Haddad. 

Na campanha também houve disputas pela direção nacional da legenda entre familiares do presidenciável e lideranças da organização. A base de Bolsonaro na disputa para a presidência da Câmara dos Deputados já está mostrando as garras: será uma escolha entre a família e importantes aliados de plantão.

A velha política "em família": Bolsonaro registra um aumento de 168% no patrimônio desde 2006, Eduardo de 432% desde 2014 e Fábio de 55% desde 2010. 

O potencial chefe da Casa Civil, Onix Lorenzoni (DEM), já assumiu que usou caixa dois para sua campanha, verba recebida da JBS. A tradição não foi alterada. Tudo se transforma para nada mudar. 

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