Sílvia Corrêa

É jornalista e médica veterinária, com mestrado e residência pela Universidade de São Paulo.

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Sílvia Corrêa

Nem o Tinder salvou Sudan, último rinoceronte-branco macho do norte

Rodrigo Fortes

Sudan morreu. Era o último rinoceronte-branco macho da subespécie do norte. Em tese, ela entrou em extinção. 

Os cientistas dizem que guardaram material genético do animal e que vão se esforçar para inseminar as duas fêmeas restantes, Najin e Fatu. Mas o tratamento de fertilização, além de nunca ter sido feito em rinocerontes, é uma operação milionária.

Sudan vivia com as fêmeas e foram feitas inúmeras tentativas para que elas engravidassem de forma natural. Mas, aos 45 anos, os joelhos do velho rino não sustentavam o corpo para viabilizar a cobertura.

Por causa disso, um perfil do solteiro mais raro do mundo foi criado no aplicativo de relacionamento Tinder. “Eu sou único”, dizia a página de apresentação de Sudan. A intenção era arrecadar US$ 9 milhões para custear a inseminação. A campanha, porém, consegui apenas US$ 100 mil.

A página foi criada no começo do ano passado, um ano antes da morte do rinoceronte. Ele sucumbiu no último mês a uma infecção na pata direita traseira, que  progrediu de maneira irreversível, impedindo-o de se levantar.

De fato, portanto, ninguém quis salvar Sudanembora agora a notícia de sua morte ganhe as páginas do mundo inteiro.

E não foi a primeira vez que fracassamos em ajudar. Os rinocerontes estão no planeta há 26 milhões de anos. Em meados do século 19, eram quase um milhão na África. Têm poucos predadores naturais, mas, apesar disso, em 2011 o rinoceronte-negro ocidental foi considerado extinto.

Em 1973, quando Sudan nasceu, havia 500 exemplares de rinoceronte-branco do norte. Em 2008, eles foram considerados extintos na natureza.

Em seus últimos anos de vida, o mamífero tinha três guarda-costas armados de rifles e escopetas no Ol Pejeta Conservancy, uma área de proteção no Quênia onde ele chegou há dez anos. 

Os seguranças tinham a missão de impedir a ação de caçadores, já que o pó de chifre do rinoceronte, com fama de curar da impotência ao câncer, é vendido em países orientais por US$ 100 mil o quilo —mais caro do que ouro.

Sudan mobilizou recursos e foi salvo dos caçadores, mas a espécie não resistiu a eles.  É o retrato de nosso descaso: a extinção de espécies só nos chama a atenção quando já não há o que fazer. 

Em tempo: ainda existem 20 mil rinocerontes-brancos do sul, mas, provavelmente, eles ganharão o noticiário quando sobrar só um.

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