Foi Vasty quem localizou Ricardo. Ela se agitou e foi em direção a um local mais alto da montanha de entulho. Andou em círculo. Cavou.
Vasty é um cão belga de cinco anos. Ricardo Pinheiro é uma das vítimas do desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, no largo do Paissandu.
O comportamento do cão orientou os trabalhos dos bombeiros, que passaram a escavar manualmente a área... mas já sem muita esperança.
Como Vasty não tinha latido, o sinal indicava a presença de um corpo e não de um sobrevivente. Menos de 24 horas depois, Ricardo apareceria exatamente naquele ponto, alguns metros abaixo.
Vasty é a mais experiente entre as cadelas escaladas para os trabalhos no largo Paissandu. Além dela, as equipes de buscas levaram ao local as também veteranas Sarah e Hope, e as aprendizes Wiki, de nove meses, e Moli, de cinco meses.
São três pastores e dois labradores --raças inteligentes, que respondem bem a comandos e resistem a situações adversas, como os escombros em alta temperatura, baixa umidade e muita poeira.
As cachorras mais velhas já haviam atuado em desabamentos, explosões e deslizamentos. Os filhotes, ainda em treinamento, fizeram a estreia em trabalhos de campo.
Wiki surpreendeu. Levada ao local indicado por Vasty, a labradora também apresentou alterações de comportamento sugestivas da presença de um corpo sob o monte de entulho.
Em cenários como o do largo do Paissandu, o trabalho dos cães farejadores é considerado fundamental pelos bombeiros, sobretudo nas primeiras 48 horas de buscas, quando a chance de haver sobreviventes é maior e os escombros não podem ser retirados de forma aleatória.
Cabe ao cães delimitar a área a ser investigada. O trunfo é a capacidade olfatória e auditiva da espécie, muitas vezes maior do que a nossa. O estímulo, a certeza de que, após a missão, virá a hora de brincar.
É por isso que, no bolso, cada adestrador carrega um brinquedo.
Para os cães farejadores, os destroços do prédio do Paissandu eram só mais um palco de caça ao tesouro.
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