Sílvia Corrêa

É jornalista e médica veterinária, com mestrado e residência pela Universidade de São Paulo.

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Sílvia Corrêa

Prefeitura de SP proíbe que pombos sejam alimentados e multará quem o fizer

Também pode ser punido quem não impedir que eles façam ninhos nos imóveis

Na música de Zé Geraldo, dar milho aos pombos é uma metáfora da alienação. O mundo mergulhado em problemas, e o autor na praça, dando milho aos pombos. 

Mas o ato que parecia banal na poesia acaba de ser proibido na vida real.

No começo do mês, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), sancionou o projeto pelo qual passa a ser punido com multa quem alimentar essas aves ou não impedir que elas façam ninhos nos imóveis.

A principal justificativa do texto, de autoria do vereador Gilberto Natalini (PV), são as cerca de cem doenças que os pombos podem transmitir para os humanos, sobretudo pelas fezes. Estamos falando de criptococose, clamidiose e salmonelose, por exemplo, que não são de notificação obrigatória e acabam subestimadas nas estatísticas.

Ilustração da coluna de Silvia Correa
Rodrigo Fortes

Mas transmiti-las não é uma exclusividade dos pombos, pensarão muitos. Os agentes são carreados por muitas aves. Sem dúvida, mas poucas chegam tão perto da população das grandes cidades, diz Natalini, que é médico.

Há ainda outra faceta da questão. Pombos alimentados em praças, embora comam mais, comem pior; tornam-se dependentes da generosidade humana e se machucam na disputa pelas migalhas. Os biólogos 
e médicos veterinários costumam chamá-los de pombos mendigos.

Há quem diga, no entanto, que os bichos morrerão de fome. O biólogo Pedro Develey, diretor da Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil, discorda. Diz que os pombos têm hábitos alimentares oportunistas e generalistas e, portanto, vão migrar, de forma que sigam sobrevivendo do lixo espalhado pela cidade, em regiões como a zona cerealista.

Mas, então, a lei é inócua? Natalini diz que não. Para ele, só o debate já a justifica, mas, segundo o vereador, haverá ainda um controle de natalidade no longo prazo, pela restrição gradativa de oferta alimentar.

Pombos vivem cerca de 30 anos (mas não passam de quatro nas cidades) e fazem até seis posturas anuais, com dois ovos cada uma. Na tradicional Trafalgar Square, em Londres, a proibição de alimentá-los veio 
em 2003 (com enorme gritaria das ONGs), e hoje já não se vê nenhum por lá.

Em tempo: para que o pombo transmita a toxoplasmose teríamos de comê-lo semicru.

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