Silvio Almeida

Advogado, professor visitante da Universidade de Columbia, em Nova York, e presidente do Instituto Luiz Gama.

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Descrição de chapéu Folhajus

Brasil precisa de muito mais do que clones do novo presidente dos EUA

Nenhum dos arremedos brasileiros de Joe Biden demonstra compromisso para resolver os graves problemas estruturais do país

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Encerradas (ou quase) as eleições nos Estados Unidos, aqui no Brasil já começam a se apresentar futuros candidatos à versão brasileira do democrata Joe Biden. Vencedor do pleito, Biden é visto como um moderado, ou seja, um candidato que não está nos extremos do espectro politico, um “centrista”. Por isso, é tido como alguém que, embora mediano, poderia apaziguar um país profundamente dividido.

Dado que no Brasil estamos à mercê de um governo de destruição nacional, que miseravelmente tenta imitar as práticas do candidato derrotado nos Estados Unidos, Donald Trump, setores da oposição ao governo Bolsonaro defendem uma saída “nem à direita e nem à esquerda”.

E já há quem se ofereça para desempenhar o papel de “Joe Biden brasileiro”, até mesmo algumas figuras diretamente responsáveis pela corrosão das instituições nacionais e que já foram aliadas ao governo de Jair Bolsonaro.

Por mais que seja um alívio para o mundo se livrar de um homem como Trump, é importante lembrar que Biden e sua vice, Kamala Harris, foram eleitos dentro da lógica das disputas internas e dos interesses particulares da sociedade americana.

Em outras palavras, o futuro governo Biden-Harris foi eleito para restaurar o mínimo de normalidade necessária à reprodução das relações socioeconômicas desenvolvidas no plano interno, e, no plano internacional, para reposicionar os Estados Unidos no velho jogo do imperialismo.

O enorme equívoco na leitura que se faz sobre a eleição de Biden é achar que sua chapa recebeu apoio instantâneo do eleitorado simplesmente porque queriam se ver livres das insanidades de Donald Trump.

Ainda que interromper a marcha de um governo com pendores fascistas e incompetente tornou-se prioridade para boa parte das oposições nos EUA, a verdade é que Biden e Harris tiveram que negociar para conseguir apoio. Mais do que a importante conquista de uma vice-presidente mulher e negra, a chapa Biden-Harris encampou em suas propostas a reforma das polícias e a ampliação do sistema de saúde, questões essenciais para a comunidade afro-americana.

Comprometeram-se os eleitos também com pautas ambientalistas e com as alas mais à esquerda do Partido Democrata no que se refere ao uso de energia renovável e de respeito aos acordos internacionais.

E tiveram que se sentar com organizações de trabalhadores e sindicatos, com propostas para a criação de empregos.

A questão é que nenhum dos arremedos brasileiros de Joe Biden demonstra compromisso ou mesmo disposição para resolver os graves e históricos problemas estruturais do Brasil. E muito menos para negociar com trabalhadores e movimentos sociais um projeto para o Brasil. A aparência de moderação que aqui se apresenta é uma armadilha para dar aparência civilizada e democrática ao radical desmonte do Estado brasileiro e à destruição da rede de proteção social tocadas pelo governo que ocupa o Palácio do Planalto.

Todavia, será impossível pacificar o país sem que uma resposta às desigualdades sociais que nos atravessam seja dada. Governos como os de Donald Trump e Jair Bolsonaro se nutrem de uma sociedade organizada pela lógica da violência e da desigualdade. São mais sintoma do que causa das mazelas de seus países.

Um país como o Brasil, em que são assassinadas em média 50 mil pessoas por ano e que assiste a um presidente desdenhar da morte de mais de 164 mil brasileiros vitimados pela Covid-19, precisa de bem mais do que clones bizarros e descontextualizados do moderado Joe Biden.

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