Solange Srour

Diretora de macroeconomia para o Brasil no UBS Global Wealth Management.

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BC deveria parar de reduzir os juros

Selic atual parece ser condizente com a trajetória da inflação rumo às metas

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A mais recente decisão do BC de reduzir a taxa Selic para 4,5% foi totalmente antecipada. A surpresa veio na mensagem. O comitê ressaltou que o atual estágio do ciclo econômico recomenda cautela, sendo os próximos passos da política monetária definidos pela evolução do cenário futuro.

No entanto, houve a avaliação de que os últimos dados de atividade e a maior eficiência do mercado de crédito podem resultar em uma redução da ociosidade mais rápida do que o antevisto e, com isso, produzir pressão inflacionária. A comunicação provocou forte ajuste no mercado de juros, com a diminuição nas apostas em novos cortes.

A recuperação cíclica parece ganhar tração. O desemprego está elevado, mas há um aumento considerável no ritmo de criação de vagas formais, estimulando trabalhadores desalentados a voltar ao mercado de trabalho. O desempenho do comércio e do setor de serviços vem surpreendendo positivamente.

O PIB deve crescer perto de 1,1% neste ano, com a demanda interna privada avançando 2,5%. Para 2020, esses números devem ser, respectivamente, 2,5% e 3,0%. Isso ocorre porque o PIB está sendo puxado pelo consumo privado e pelo investimento. Os números só não são melhores porque um quinto do PIB, o consumo do governo, deve cair 0,5% neste ano e se manter estável em 2020.

Dois fenômenos estão acontecendo no mercado de crédito e devem ser o foco do BC no curto prazo. O primeiro é a maior participação do crédito com recursos livres, em detrimento do crédito direcionado.

O direcionado possui taxas de juros subsidiadas para alguns setores da economia, enquanto o livre trabalha com as taxas de mercado, balizadas pela Selic. Esse fenômeno aumenta a potência da política monetária, justamente quando o grau de estímulo não encontra comparativos na história.

O segundo é o começo da desintermediação financeira, com o desenvolvimento do mercado de capitais.

A diminuição dos empréstimos do BNDES impulsionou a busca por financiamento via emissão de dívida. Paralelamente, o mercado de fintechs de crédito e bancos digitais tem evoluído rapidamente, fomentando uma competição saudável com o mercado bancário tradicional.

O BC não deu pistas claras de qual seria sua próxima decisão, deixando as portas abertas tanto para o fim do ciclo quanto para um corte mais cauteloso. Há razões para isso.

Quando o ciclo de política monetária está no seu início, fica mais fácil descrever com detalhes a previsão mais provável das futuras decisões. No entanto, ao chegar perto do fim do ciclo, a autoridade monetária geralmente faz uma política de sintonia fina, não encontrando o grau de certeza suficiente para deixar os próximos passos explícitos.

A taxa de juros está estimulativa, e seus efeitos possuem defasagens. O BC não deve ficar adicionando estímulos até a inflação desviar da meta. A calibragem final exige muita arte e um certo sangue-frio.

Por fim, nossas metas de inflação estão em processo de queda. A última, estabelecida para 2022, é de 3,5%, mas é desejável que possa ser reduzida gradualmente para 3%.

Neste estágio do ciclo, a Selic atual parece ser condizente com a trajetória da inflação rumo às metas no horizonte da política monetária. O BC cumpre o seu papel de colocar a inflação no objetivo estabelecido, com a recuperação cíclica diminuindo nossa capacidade ociosa.

Os desafios do crescimento sustentável ficam a cargo do ajuste fiscal ainda a ser consolidado e da busca por uma maior produtividade da economia.

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