Solange Srour

Diretora de macroeconomia para o Brasil no UBS Global Wealth Management.

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Solange Srour

Como reagir à guerra comercial

Deveríamos acelerar nossa agenda de concessões e derrubar tarifas de importação

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Nesta semana, o presidente Donald Trump anunciou que irá sobretaxar as exportações de aço e alumínio do Brasil, sob o argumento de que temos conduzido uma desvalorização do real com vistas a aumentar a competitividade dos nossos produtos exportados, principalmente os agrícolas.

Ameaçou também tarifar vinhos, queijos e artigos de luxo franceses. Nesse caso, a ofensiva é uma resposta à implementação de tarifas digitais sobre companhias americanas como Google, Facebook, Amazon e Apple.

Desde que tomou posse, seu foco tem sido a guerra comercial, e a China, o principal alvo. Ao culpar o crescimento acelerado das exportações chinesas pelo empobrecimento dos trabalhadores industriais americanos, Trump justifica o brutal aumento da desigualdade social pós-crise financeira de 2008.

Com a imposição de tarifas sobre bens importados e de cotas mínimas para as exportações agrícolas, a economia americana começa a operar de maneira menos eficiente. Isso se reflete na perda de confiança dos empresários e dos consumidores. Trump acusa o Fed (Federal Reserve) de ser conservador na política monetária, mas sabe que a principal causa dos sinais mais fracos da atividade é o aumento da incerteza derivada de sua política externa.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aparece com um semblante sério, olhando para frente, com um dos dedos em riste.
Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou sobretaxas de exportações para Brasil e Argentina - Brendan Smialowski-7.Out.2019/AFP

A guerra comercial serve como uma luva para agradar ao eleitorado americano de classe média baixa, mas seu aspecto mais importante não é esse. A China se tornou, em poucos anos, a maior ameaça à hegemonia americana. Os ideais de democracia e economia liberal dos Estados Unidos pareciam destinados a se espalhar pelo mundo até a China entrar em cena para questionar a unicidade desse modelo.

Restrições ao comércio de bens e serviços são apenas um instrumento do conflito geopolítico que veio para ficar. Os Estados Unidos estão especialmente preocupados com o poderio militar, tecnológico e político de uma potência cujos limites institucionais inexistem.

Nesse contexto, o Brasil poderia tirar proveito das tensões externas, que são mais estruturais do que cíclicas.

Deveríamos estar acelerando nossa agenda de concessões e privatizações, derrubando as tarifas de importação de bens de capital e negociando acordos para a derrubada de entraves às exportações. A concorrência entre Estados Unidos e China pela hegemonia mundial certamente nos dá um lugar privilegiado nas mesas de negociação.

O Brasil é um dos países mais fechados do mundo, com exportações mais importações representando menos de 25% do PIB (Produto Interno Bruto), enquanto a média global está em 52%.

O setor industrial brasileiro, assim como o setor de serviços, tem elevada proteção contra importados. Sem um amplo processo de abertura comercial e de concorrência, não teremos condições de incorporar tecnologias sem as quais não haverá aumento de produtividade. Os únicos setores produtivos no Brasil são o agronegócio e a indústria de mineração, que enfrentam elevada concorrência internacional.

É claro que a guerra comercial afeta negativamente o crescimento mundial e, portanto, a nossa economia. No entanto, podemos nos beneficiar se conseguirmos atrair mais poupança externa, incentivar o investimento e promover um salto de produtividade.

A combinação de inflação baixa, grande capacidade ociosa e política fiscal contracionista abre espaço para o câmbio ficar mais depreciado e facilita a atração de capitais. Menos ideologia, mais pragmatismo e visão estratégica estão fazendo falta.

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