Solange Srour

Diretora de macroeconomia para o Brasil no UBS Global Wealth Management.

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Solange Srour

Mexicanização da economia, parte 2

Juro baixo, câmbio flexível e política fiscal prudente não trazem crescimento

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Em 2006, o ex-presidente do BC Ilan Goldfajn alertou em artigo intitulado “A mexicanização da economia brasileira” para o fato de o Brasil poder estar, naquele momento, trilhando o mesmo caminho que o México. 

Após ter avançado na estabilidade de preços, ter convergido a taxa de juros reais para patamares baixos, reduzido a dívida externa e alcançado o grau de investimento pelas agências de risco, o México não conseguia aumentar a taxa de crescimento do PIB e sair da armadilha da renda-média. 

O diagnóstico era claro: ambos os países não haviam construído o consenso necessário para avançar na agenda de reformas imprescindíveis para aumentar a produtividade e a competitividade.  

Em 2012, após a eleição de Penã Neto, o México embarcou em um conjunto ambicioso de reformas: mercado de trabalho, abertura comercial, atração de investimentos externos, tributação, abertura do setor de energia para o investimento privado e quebra do monopólio no setor telecomunicações. 

O norte era claro: finalmente o país buscava a eficiência, a criação de melhores empregos e a atração de investimentos. Na esteira, viria o aumento do potencial de crescimento.

No entanto, o resultado foi decepcionante. O crescimento da renda per capita desde 2012 continuou o mesmo da média das últimas duas décadas, 1,2%, enquanto a produtividade está estagnada em 0,5% desde 1996.

A causa da má performance está na ausência de reformas no ambiente de negócios, no marco regulatório fraco e na má alocação de recursos. As reformas liberalizantes não foram desenhadas levando em conta que instituições são importantíssimas para afetar o comportamento dos empresários, investidores e consumidores.

Nenhum avanço foi realizado para reduzir o número de empresas improdutivas, pelo contrário, os subsídios aumentaram para os setores afetados pelas reformas. 

O sistema judicial não se modernizou, e a distância entre as regras na teoria e na prática ficou cada vez mais gritante.

Infelizmente, juros reais baixos, autonomia do BC, flexibilidade da taxa de câmbio e política fiscal prudente não trazem crescimento. Reformas que incentivam a competição externa, quebram monopólios e diminuem a interferência estatal nos mercados são condições necessárias para o aumento da produtividade, mas não são suficientes. O modus operandi da sociedade só muda quando o sistema de incentivos funciona.

A retomada do Brasil tem decepcionado, mesmo após aprovarmos uma série de reformas que começaram no governo Temer.

Enquanto vários economistas acreditam que faltam estímulos à demanda, sejam fiscais ou monetários, seria interessante olhar com mais atenção a experiência mexicana e sua atual conjuntura. Juros baixos, aumento de gastos públicos, câmbio depreciado e até reforma liberais não têm ajudado muito.

De outro lado, a decepção com o crescimento não pode ofuscar a importância das reformas já realizadas ou mesmo colocar os avanços já obtidos em risco.

Se não tivéssemos o teto de gastos, a reforma da Previdência, a redução dos subsídios via BNDES e reforma trabalhista, estaríamos como outro país, em situação bem pior que a mexicana. A Argentina teve no ano passado uma queda de PIB da ordem de 2,5%, e a expectativa para este ano é -1,5%.

 

Retroceder nas conquistas seria um tiro no pé da retomada. O caminho do crescimento sustentável depende da persistência nas reformas macroeconômicas, mas nosso potencial só aumentará se alocarmos melhor o capital e o trabalho, em um ambiente de incentivos bem desenhado e com regras que são de fato cumpridas. 

A evolução do debate econômico brasileiro é vital porque é bastante improvável que, com baixo crescimento, o Brasil consiga levar adiante a tão urgente agenda social. Assim como o México e, principalmente, a Argentina.

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