Solange Srour

Diretora de macroeconomia para o Brasil no UBS Global Wealth Management.

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Reduzir incentivos ajudará no PIB

Prolongamento de estímulos causaria mais inflação e alta mais rápida dos juros

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A performance da economia brasileira foi bem mais positiva do que o previsto no ano passado. Dada a extraordinária expansão fiscal e monetária a partir de março de 2020, nada parecia mais natural.

De uma recessão esperada de cerca de 10%, fechamos o ano com uma queda do PIB de 4,1%. No entanto, tal desempenho não foi suficiente para evitar um elevado pessimismo no começo de 2021.

Diante do temor de uma segunda onda da Covid-19 e da perspectiva de uma forte retração fiscal, muitos economistas passaram a esperar uma queda do PIB já no primeiro trimestre. Alguns tinham como cenário-base uma recessão no segundo trimestre.

Esse cenário começou a mudar. Diversos indicadores nos últimos meses —como criação de emprego formal, concessões de crédito, vendas no varejo e produção de serviços e de bens industriais— levaram vários analistas a revisar o crescimento deste ano de cerca de 3% para um valor próximo ou superior a 4%.

De fato, o recrudescimento da pandemia nos atingiu de forma avassaladora; e, entre março e abril, restrições de mobilidade foram adotadas na maioria das grandes cidades. A contração fiscal se confirmou também bastante significativa. De um gasto de R$ 500 bilhões em 2020 para lidar diretamente com os efeitos econômicos da Covid-19, o total programado para este ano é de R$ 125 bilhões.

São dois os principais fatores por trás de um otimismo maior com o crescimento de 2021. O primeiro é de curto prazo: o menor impacto das restrições de locomoção. Não só no Brasil, mas diversas sociedades se mostraram menos obedientes a partir do começo do processo de vacinação. Agora, com a abertura da economia, ficará mais evidente se a estabilização de um alto número de casos no país deverá ou não gerar novamente um colapso do sistema de saúde.

O segundo fator é mais polêmico e estará presente no debate econômico eleitoral: estímulos fiscais e monetários não geram crescimento sustentável. O medo do “abismo fiscal” foi exagerado, assim como a ideia de que os juros reais deveriam ser negativos. No momento em que a mobilidade voltou, a oferta se ajustou, e a economia pode se recuperar.

O acúmulo de poupança durante a pandemia deve estar ajudando a transição, assim como algum ganho de produtividade com as novas formas de produção advindas da experiência do distanciamento social.

As políticas expansionistas no começo da pandemia eram vistas como essenciais para estimular a demanda, devendo ser retiradas muito gradualmente sob o risco de levar a mais um ano de estagnação. Tal ponto de vista se mostrou completamente equivocado.

Tanto a política fiscal quanto a monetária foram, na verdade, fundamentais para evitar a parada abrupta da oferta da economia. Impediram uma taxa de desemprego muito maior (por meio dos programas de afastamento temporário ou redução da carga de trabalho bancados pelo governo), um aumento substancial da pobreza (pelo auxílio emergencial) ou uma quebradeira de empresas (via programas de crédito e queda da taxa de juros).

Quando o controle da pandemia permitiu a volta da produção, a redução dos estímulos não só não levou a uma desaceleração forte da atividade como também se mostrou producente. Seu prolongamento e o aumento ainda maior de nossa dívida causariam não apenas mais inflação mas também uma elevação mais rápida dos juros.

Não faltam evidências para essa argumentação —basta observar o comportamento da taxa de câmbio, dos juros longos e das expectativas de inflação desde o começo deste ano, durante a votação da PEC Emergencial e nas discussões sobre o Orçamento deste ano.

A pandemia ameaçou pôr em xeque as políticas de consolidação fiscal e a queda das taxas de juros reais iniciada em 2017. Algumas ideias como: juros baixos são eternos, câmbio depreciado ajuda a retomada, desigualdade social se resolve com auxílio emergencial, gasto é vida, entre outras, são “fantasmas” que certamente nos assombrarão no ano que vem.

A retomada da economia é hoje o nosso maior escudo contra essa falsa narrativa. O problema está em blindá-la contra o risco de agravamento da crise política e sanitária.

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