Solange Srour

Diretora de macroeconomia para o Brasil no UBS Global Wealth Management.

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Solange Srour
Descrição de chapéu inflação juros Selic

É chegada a hora de encerrar o ciclo de alta dos juros no Brasil?

Projeção é de que a taxa básica (Selic) suba a 13,75% e se mantenha estável até o fim do ano

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É esperado que o BC (Banco Central) do Brasil suba a taxa Selic em 50 pontos base para 13,75% ao ano na semana que vem. De acordo com a pesquisa Focus, esta será a última alta do ano —expectativa corroborada pela recente comunicação da autoridade monetária. Alguns fatores, no entanto, indicam que tal decisão pode ser bastante arriscada.

Em primeiro lugar, os núcleos do IPCA (que expurgam os efeitos de choques temporários, como a alta de energia e alimentos) no primeiro semestre foram os maiores desde 2003, o índice de difusão está próximo ao seu maior nível da história, que junto com a elevada inércia de nossa economia são indícios de que a desinflação tende a ser muito mais gradual do que o BC espera.

Cédula de R$ 100 - Gabriel Cabral/Folhapress

Em segundo lugar, as expectativas de inflação seguem se deteriorando, o que constitui um alto risco para a inflação corrente. A diferença entre a expectativa da inflação de 2023 da pesquisa Focus e a meta é de dois pontos percentuais (a maior da série).

A inflação esperada para 2024 já começou a subir, algo que não é comum ocorrer com tanta antecedência. As inflações implícitas (diferença entre as taxas nominal e real de juros) negociadas no mercado apontam para taxas entre 6,2% e 7% para qualquer horizonte negociado.

Nosso BC nunca antes encerrou um processo de aperto monetário com as expectativas no seu horizonte de atuação em alta.

Em terceiro lugar, a capacidade ociosa da economia tem se revelado menor do que se espera. A média das expectativas de crescimento do PIB deste ano subiu de 0,3% para 1,9% desde janeiro. O próprio BC reconhece o forte desempenho da atividade, em especial do mercado de trabalho.

Ainda que as condições financeiras estejam restritivas e existam defasagens da política monetária, o fato é que, até o momento, a demanda ainda não sentiu tanto.

Em quarto lugar, a política fiscal tem sido mais expansionista (com os cortes de impostos e o aumento no valor do Auxílio Brasil), contrabalanceando parte do aperto monetário.

Ao mesmo tempo, o enfraquecimento do arcabouço fiscal tende a pressionar o prêmio de risco do país, gerando depreciação do câmbio, o que adiciona riscos à inflação futura.

Em quinto lugar, estamos diante de uma forte alta dos juros internacionais. O receio de recessão global aumenta a aversão ao risco e traz um ambiente de dólar forte. Um menor diferencial de juros adicionalmente à queda nos preços das commodities leva a um real mais desvalorizado e uma maior pressão inflacionária.

O impacto desinflacionário da queda das commodities vai depender do comportamento do real. Até o momento, a queda das commodities em reais não é um fator de grande alívio para a inflação.

Além de todas essas razões, o atual nível da inflação deveria por si só ser um fator preponderante para maior cautela, pois ele influencia a probabilidade de a inflação se perpetuar por um horizonte mais longo.

Em seu último relatório anual, o BIS (sigla em inglês para Bank of International Settlements) traz exatamente tal discussão.

Regimes de alta inflação induzem mudanças comportamentais significativas. Trabalhadores e empresas tentam compensar a erosão do poder de compra e das margens de lucro provisionando salários e preços.

Quando, além de alta, a inflação se torna persistente, crescem o incentivo à indexação e a frequência dos reajustes.

Já a dinâmica dos preços em um regime de baixa inflação oferece uma maior flexibilidade aos bancos centrais. Neste regime, a evolução da inflação reflete, em grande parte, mudanças nos preços relativos que podem ser acomodadas através de uma política monetária menos ativa, com menor risco de contaminação dos demais preços.

Depois de três anos de inflação em alta, o Brasil periga entrar novamente em um regime de alta inflação. Conseguimos aprovar a autonomia do Banco Central no ano passado, mas infelizmente estamos com grandes chances de perder o topo da meta de inflação por três anos consecutivos.

Não há como não vislumbrar alguma perda de credibilidade com este histórico.

É verdade que os juros reais do Brasil hoje são extremamente altos, mas o mesmo pode-se dizer da inflação, das expectativas inflacionárias e da incerteza fiscal.

Quanto mais tempo postergarmos o controle da inflação, maior será a desaceleração da economia necessária para trazê-la de volta à estabilidade de preços

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