Suzana Herculano-Houzel

Bióloga e neurocientista da Universidade Vanderbilt (EUA).

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Suzana Herculano-Houzel

Você também é seu microbioma

O que define uma espécie não é só o DNA, mas uma sociedade indissociável de células e genomas

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Fala-se do genoma humano como se nós fôssemos feitos de células todas iguais, com o mesmo DNA exclusivo à nossa espécie e suficiente para nos definir, mas a biologia agora entende que isso é uma simplificação cada vez mais grosseira. 

Assim como uma vaca morreria rapidamente sem as bactérias que digerem celulose no seu estômago e proveem a maior parte da energia que sustenta o corpo, humanos sem suas bactérias intestinais são inviáveis. “Você” é o conjunto das células do seu corpo, que inclui, obrigatoriamente, suas bactérias e outras entidades.

Aqui caberia toda uma digressão sobre o que define uma espécie: não mais uma certa sequência de letras no DNA, mas uma sociedade indissociável de células e genomas. Tão indissociável que populações diferentes que habitam o mesmo corpo falam umas com as outras usando várias vezes as mesmas moléculas.

No cérebro, essas moléculas são chamadas de neurotransmissores ou neuromoduladores. Mas, de acordo com um novo estudo da Universidade de Leuven, na Bélgica, várias delas também são produzidas pelas bactérias do intestino humano.

 

O estudo analisou o “potencial neuroativo” do microbioma de mais de mil participantes usando matemática estatística para cruzar dados sobre mais de 500 genes no genoma de bactérias coletadas em mais de mil participantes e dados sobre seu estado físico e mental. O painel mostrou uma correlação significativa entre a composição do microbioma, sua capacidade de sintetizar moléculas que agem no cérebro, e o estado de saúde mental e qualidade de vida dos participantes.

Faecalibacterium e Coprococcus, por exemplo, tendem a ser mais abundantes nas fezes de pessoas com melhores índices de qualidade de vida, e Coprococcus tende a ser menos encontrada em pessoas sofrendo de depressão grave, medicada ou não. Ambos os tipos de bactérias portam genes que participam da degradação de glutamato, o principal neurotransmissor usado no cérebro (e também um dos aminoácidos mais comuns nas proteínas que ingerimos).

Como o estudo é puramente correlacional, não é possível dizer, a esta altura, o que vem primeiro: alterações no microbioma intestinal ou no cérebro relacionadas à depressão, ou mesmo se tudo não passa de correlação com alguma outra coisa ou é mera coincidência. Ainda assim, os resultados confirmam que a saúde mental depende dos seus neurônios —e também de suas bactérias intestinais. Você definitivamente é mais que seu cérebro.

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