Suzana Herculano-Houzel

Bióloga e neurocientista da Universidade Vanderbilt (EUA).

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Suzana Herculano-Houzel

Ninar seu bebê acaba de ganhar explicação científica

Efeito soporífero de uma rede passa por dentro dos ouvidos, que detecta aceleração do corpo

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Pai nina filho bebê - Fotolia

 A lista de exclusividades humanas só faz diminuir. Não somos os únicos que fazem instrumentos, entendem sons e símbolos, têm cultura ou modificam seus alimentos.

Agora, pesquisadores de quatro instituições na Suíça mostraram que humanos não são os únicos chegados em adormecer numa rede: camundongos também caem no sono bem mais rápido quando são gentilmente sacudidos para lá e para cá.

Como ninar um camundongo? A imagem de uma redinha na gaiola é muito mais interessante do que a solução real, porém prática, para qualquer laboratório bem equipado: transformar em cama um agitador lateral, usado para incubações longas.

Trata-se de uma plataforma motorizada que desliza continuamente para lá e para cá, na horizontal, com velocidade regulável. Forre com uma coberta macia e absorvente, e voilà: tem-se uma rede para camundongos.

Os pesquisadores experimentaram ritmos diferentes, começando com o ciclo de um balanço de ida e volta a cada 4 segundos ideal para fazer gente dormir, e descobriram que a frequência ideal para ninar camundongos é mais rápida: um ciclo por segundo (o que esta humana acharia extremamente irritante).

O porquê da diferença certamente tem a ver com tamanho, mas se o que importa é o tamanho do corpo, a idade, o tamanho do cérebro ou o número de neurônios, isso ainda precisará ser investigado. Duas balançadas por segundo, no entanto, já são demais até para camundongos.

Camundongos no balanço adormecem na metade do tempo, em menos de 10 minutos, em vez de 20 minutos em média para adormecer na máquina parada. O balanço também aumenta a facilidade de adormecer de novo quando o sono é interrompido – como quem já tirou uma soneca na rede bem sabe. Com isso, o ganho total num período de doze horas chega a 90 minutos a mais de sono com balanço.

Com o achado de que camundongos também podem ser ninados, os pesquisadores descobriram que animais mutantes sem as “pedrinhas” dentro dos ouvidos que sacodem para lá e para cá quando o animal é balançado são imunes ao efeito soporífero do balanço.

O efeito soporífero de uma rede, portanto, passa pelo sistema vestibular, dentro dos ouvidos, que detecta aceleração do corpo.

Graças a anos de estudos básicos sobre a circuitaria do cérebro que liga o ouvido interno a várias estruturas que regulam o sono, como o hipotálamo e certos núcleos do tronco cerebral, a descoberta de que camundongos também adormecem mais facilmente quando ninados faz perfeito sentido. Afinal, o cérebro deles é conectado de maneira essencialmente semelhante à nossa. Ninar seu bebê acabou de ganhar explicação científica!

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