Suzana Herculano-Houzel

Bióloga e neurocientista da Universidade Vanderbilt (EUA).

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Suzana Herculano-Houzel

Macaquinhos autistas

Pesquisa sobre modificações genéticas pode ajudar a entender autismo

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Ah, os chineses. Querendo deixar os EUA para trás como potência de geração de conhecimento, o governo do país espertamente passou a investir rios de dinheiro na criação e financiamento de novos centros de pesquisa há alguns anos, inclusive para repatriar, com apoio farto, cientistas chineses formados no estrangeiro. 

O investimento já rende frutos. Na reunião anual da Society for Neuroscience, em curso em Chicago, nos EUA, nota-se um número cada vez maior de participantes da Academia Chinesa de Ciências, enquanto os brasileiros minguam nos corredores. Que bom para eles.

E que bom para a ciência, inclusive porque várias pesquisas que nos EUA esbarram em entraves legais já são possíveis na China, em particular modificações genéticas de animais criados em laboratório. Não entro aqui no mérito de isso ser certo ou errado; apenas constato que, na ausência da enorme resistência que muitos estadunidenses e europeus impõem a pesquisas com animais, e sobretudo primatas, a China desponta no momento com uma força no horizonte dos modelos animais.

Se o objetivo é entender o cérebro humano, mas de preferência sem invadir cérebros humanos, o avanço possível estudando cérebros de ratos e camundongos é necessariamente limitado. Os últimos são roedores com pequeno número de neurônios no córtex cerebral, conectados por um volume pequeno de fibras, que vivem no máximo uns dois anos. Não me espanta que camundongos, mesmo com mutações genéticas, sejam péssimos modelos para estudar a doença de Alzheimer, por exemplo: como esperar que problemas que levam 60 anos para surgir em humanos apareçam em menos de dois em um camundongo

O jeito é chegar o mais perto possível do humano com algum conforto ético —o que requer, no mínimo, estudar outros primatas. Na China, onde qualquer animal com a barriga para baixo é considerado comida, macacos são jogo limpo. Não surpreende, então, que os primeiros estudos investigando autismo em macacos estejam sendo feitos lá.

Ainda há quem considere o autismo um problema exclusivamente humano. Mas, se o gene mais comumente afetado (SHANK3) for deletado em macacos, o resultado seria um macaco… autista? Ao que parece, sim.

Segundo Yong Zhang, da Academia Chinesa de Ciências, os dois animais modificados evitam interações sociais, ignoram humanos e seu olhar, demoram a começar a vocalizar e melhoram tomando Prozac, como humanos. O autismo, portanto, não é exclusividade humana, e nossas crianças podem se beneficiar da pesquisa com esses macacos modificados. Se isso provoca desconforto? Boa pergunta…

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