Suzana Herculano-Houzel

Bióloga e neurocientista da Universidade Vanderbilt (EUA).

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Suzana Herculano-Houzel

Convivência boa gera apego

Cérebro só aprende a preferir a companhia de quem nos faz bem, mostra novo estudo

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Nós humanos gostamos de pensar muitas coisas de nós mesmos como exclusividade humana, mas não conheço nenhum exemplo que tenha resistido ao teste da observação sistemática de outros animais.

Não somos os únicos animais que exibem autocontrole. Não somos os únicos a mudar de ideia ou pré-processar a comida antes de comê-la (macacos quebram nozes, e pássaros regurgitam alimento semidigerido diretamente na boca de seus filhotes). E até alguns roedores formam vínculos afetivos duradouros do tipo que deixa humanos com inveja: dada a alternativa da companhia de alguém novo, arganazes-do-campo esnobam a desconhecida e preferem ficar com a parceira.

Há um bom tempo que neurocientistas exploram a fidelidade social dos arganazes-do-campo para estudar suas origens, sobretudo comparando-os com os arganazes-da-montanha, que continuam seu comportamento arroz de festa, sem se apegar a um só parceiro.

Já se sabe que a fidelidade social requer experiências sociais prazerosas na presença do outro, que levam à liberação de oxitocina e vasopressina no estriado ventral, o cerne do sistema de recompensa (sexo funciona que é uma beleza). A conjunção de ocitocina mais a indicação do córtex que o contexto é a companhia daquele indivíduo e a confirmação da sensação de prazer da dopamina liberada deixa marcas no estriado ventral —e quanto mais a experiência se repete, mais ela tende a se repetir, num círculo virtuoso de apego.

Mas como? Ah, o que é ter apoio do governo e de sociedades privadas para fazer pesquisa. Em trabalho publicado na revista PNAS, o grupo de Zoe Donaldson, na Universidade de Colorado em Boulder, nos EUA, conseguiu implantar microendoscópios no estriado ventral de mais de uma dúzia de arganazes geneticamente modificados de maneira a tornar a atividade de neurônios individuais visível por fluorescência. Cada animal pôde ter várias dúzias de neurônios analisados ao mesmo tempo em três sessões: quando conheceram um parceiro do sexo oposto; quando conviviam há poucos dias com o tal parceiro; e três semanas de convivência mais tarde.

O grupo mostrou que a preferência pelo parceiro surge ao longo do tempo de convivência conforme mais e mais neurônios no estriado ventral respondem à proximidade do parceiro.

É um estudo interessante em tempos de convivência forçada, sobretudo porque não basta conviver: o cérebro só aprende a preferir a companhia de quem nos faz bem.

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