Sylvia Colombo

Historiadora e jornalista especializada em América Latina, foi correspondente da Folha em Londres e em Buenos Aires, onde vive.

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Eleições marcam era de mais pluralidade na Colômbia

Derrota do partido do presidente em seus principais redutos mostra que Duque não se saiu bem em teste

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O beijo na boca da prefeita eleita de Bogotá, Claudia López, em sua mulher, a senadora Angélica Lozano, é um sinal de que a Colômbia, tradicionalmente conservadora nos costumes, está mudando.

A prefeitura de Bogotá é o segundo posto político mais importante do país e, pela primeira vez, será ocupado por uma mulher. Uma mulher que não esconde sua homossexualidade. 

Claudia López beija sua companheira, a senadora Angélica Lozano, após vitória nas eleições - Reprodução

É claro que isso não é garantia de que venha a ser melhor prefeita do que um homem ou uma mulher heterossexuais, mas o símbolo de aceitação da diversidade é importante num país tão marcado pela tradição católica e com a igreja evangélica em expansão.

 

Mais importante ainda quando, na Colômbia, as mulheres nunca chegaram à Presidência e obtêm apenas 15% dos cargos de eleição popular.

Mas este é apenas um dos detalhes de uma eleição regional, ocorrida no último dia 27, que trouxe outras novidades ao mapa político colombiano.

É verdade que não há partidos de esquerda fortes no país. Esta nunca foi bem vista pela maioria da população, que associa esse espaço político às guerrilhas

As manchas de sangue, violência e dor deixadas pelos movimentos armados produziram essa rejeição que permanece até hoje.

Porém, candidatos e alianças progressistas, novos e independentes ganharam espaço, enquanto velhas estruturas partidárias, caudilhos e clãs regionais perderam território.

A própria Claudia López é sinal disso. Ela pertence a uma agrupação de centro-esquerda, a Alianza Verde, que já vinha despontando. Na eleição presidencial de 2018, seu candidato ficou em terceiro lugar.

Era o matemático Sergio Fajardo, o homem que transformou Medellín num "case" de sucesso com obras urbanísticas que transformaram esta que já foi uma das cidades mais violentas do mundo.

Desta vez, em Medellín, antiga capital do reduto eleitoral do ex-presidente de direita Álvaro Uribe, quem ganhou foi um candidato independente e não alinhado a ele, Daniel Quinteros, um defensor do processo de paz com as guerrilhas.

Já em Cúcuta, cidade de fronteira com a Venezuela em que, em 2018, os habitantes pediam uma linha mais dura no controle migratório, o uribismo também foi derrotado, e ganhou o independente Jairo Tomás Yañez, de perfil mais centrista.

O partido de Uribe, o direitista Centro Democrático, também encolheu em todo o país.

Não tem mais a mesma força que usou para fazer com que o "não" ganhasse no plebiscito para aprovar o acordo de paz com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), em 2016, obrigando o governo a aprovar o tratado por meio do Congresso.

Nem a mesma força que, dois anos depois, conseguiu com que fosse eleito, como presidente, outro apadrinhado de Uribe, Iván Duque.

Após pouco mais de um ano de gestão, ele vem caindo nas pesquisas de popularidade. 

As eleições do domingo passado serviram também para avaliar a gestão de Duque. E a derrota do Centro Democrático em seus principais redutos eleitorais mostra que ele não se saiu bem no teste.

Além disso, a chegada de novos nomes e siglas, abrindo o leque de opções ao eleitor, é um sinal de que a Colômbia vai se tornando um país mais plural.

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