Sylvia Colombo

Historiadora e jornalista especializada em América Latina, foi correspondente da Folha em Londres e em Buenos Aires, onde vive.

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Que países podem viver tensões sociais e políticas em breve?

Há várias nações, cada uma com suas particularidades, que inspiram preocupação

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Que países latino-americanos têm a possibilidade de viver tensões nos próximos meses?

Sempre lembrando que cada um tem suas particularidades históricas e culturais e que essas manifestações têm sua dinâmica peculiar, há várias situações que inspiram preocupação.

Os colombianos foram às ruas a partir de quinta-feira (21) para expressar um incômodo que vem aprofundando uma polarização que já existia, mas que foi acentuada depois de 2016, com a aprovação do acordo de paz com a guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

Forças de segurança em conflito com manifestantes em Bogotá durante greve geral convocada por estudantes, sindicatos e indígenas contra o governo
Forças de segurança em conflito com manifestantes em Bogotá durante greve geral convocada por estudantes, sindicatos e indígenas contra o governo - Raul Arboleda - 21.nov.19/AFP

As ruas de várias capitais se encheram para protestar contra um pacote de reformas —tributária, previdenciária e trabalhista— que o governo do centro-direitista Iván Duque, em popularidade em queda (27%), quer implementar.

Também causa revolta as falhas na implementação do acordo de paz, que levou à formação de dissidências e ao assassinato de mais de 500 líderes comunitários e de 150 ex-guerrilheiros que haviam deixado as armas e não receberam a proteção que o Estado se comprometera a dar.

Embora a projeção de crescimento da economia da Colômbia neste ano seja de 3%, há números que incomodam, como os 10% de desemprego e os 25% de pobreza.

As marchas da última semana marcam um movimento que acaba de começar.

É preciso ficar de olho, também, no México. O esquerdista Andrés Manuel López Obrador chegará ao seu primeiro ano de gestão no próximo dia 1º de dezembro com uma queda de 20 pontos de popularidade.

A violência relacionada ao narcotráfico aumenta. O episódio em que as forças de segurança foram obrigadas a soltar o filho do Chapo Guzmán antes que Culiacán virasse um cemitério mostram que AMLO, como o presidente é conhecido, não tem ideia de como conter os cartéis.

Até novembro, a cifra oficial de homicídios já é de 31.632 pessoas. E a pobreza atinge 41,6% da população.

A luta contra os altos gastos do Estado não passou, até agora, de ação midiática, como a venda do avião presidencial e a redução de salários de funcionários públicos —o que por outro lado deixou essa categoria furiosa.

Nada disso quer dizer que o México irá explodir em protestos também, mas vale ficar alerta.

Para um presidente que chega a essa situação com apenas um ano no poder (no México, os mandatos são de seis anos), são muitos os que estão descontentes.

Afinal, AMLO prometeu uma reforma do Estado sem precedentes e, em vez disso, vem falhando em várias frentes.

Por fim, há que se prestar atenção na Argentina. A situação econômica é desesperadora, para dizer pouco.

País endividado (em dólares), praticamente sem reservas, inflação a 55% ao ano, pobreza de 35,4% e a indignação com o impedimento para a compra de dólares compõem uma verdadeira panela de pressão.

O fator amenizador é que o novo governo eleito é peronista. Isso está longe de significar que poderá resolver essa situação. Mas há uma qualidade que os peronistas possuem, nem que tenham de imprimir dinheiro aos montes.

Eles sabem como conter os sindicatos e a população. Com assistencialismo, com um discurso que fala ao coração dos mais pobres e com o monopólio do mito de salvação da pátria.

Costuma funcionar. Ainda que seja por uns meses.

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