Sylvia Colombo

Historiadora e jornalista especializada em América Latina, foi correspondente da Folha em Londres e em Buenos Aires, onde vive.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Sylvia Colombo

Caso de Harry e Meghan é oposto à abdicação de Edward 8º

Família real britânica deveria agradecer imprensa por ajudar a perpetuar lendas edulcoradas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Os Windsor reclamam da imprensa pela invasão de sua privacidade. Porém, a família real britânica deveria agradecer aos meios de comunicação por ajudarem a perpetuar as lendas edulcoradas que ela mesmo criou sobre um passado do qual não há tanto assim de que se orgulhar.

A que vem à tona neste momento é a que diz que Edward 8º abdicou do trono apenas por amor. Partindo dessa farsa, a imprensa mundial estampou em vários idiomas uma comparação absurda. Nela, o afastamento recém-anunciado do príncipe Harry e de Meghan Markle —os duques de Sussex— de suas responsabilidades reais seria similar à abdicação ao trono de Edward 8º, em 1936.

As duas histórias estão sendo vendidas como casos de amor que enfrentaram o “establishment”, verdadeiros contos de fadas. Só que um não tem nada a ver com o outro. Aliás, são exatamente o oposto.

Harry e Meghan são uma peça fundamental para a popularidade da instituição. São jovens, modernos e seguem o modo de pensar de outro ícone dos fãs da realeza, a princesa Diana. Se a monarquia britânica quer continuar sendo relevante, precisa deles.

Já Edward 8º foi pressionado a deixar o trono por conta de sua afinidade com o nazismo. Nos anos 1930, o jovem herdeiro da coroa britânica, com ascendência germânica, celebrou a ascensão de Hitler.

Antes e depois de herdar o trono, seu comportamento foi observado e vigiado de perto pelo “establishment” político britânico e pelo MI5 (serviço de espionagem). Parte do Parlamento, assustada com a expansão do nazismo, era contra o fato de a Inglaterra poder se aliar a Hitler.

Foi nesse contexto que caiu como uma luva para os interesses anti-germânicos na Inglaterra o fato de Edward 8º ter se apaixonado por uma americana divorciada. Isso fez com que a aristocracia, o Parlamento, a Igreja e grande parte da opinião pública ficasse contra o casamento.

É certo que seu relacionamento com Wallis Simpson jogou a favor da abdicação, mas o verdadeiro motivo foi sua afinidade com o nazismo.

Diferentemente de Harry e Meghan, que querem sair por vontade própria, Edward 8º foi expulso do centro das decisões. E, mesmo deixando o trono, continuou sendo uma ameaça por sua amizade com dirigentes nazistas e com o próprio Hitler, a quem visitava em sua casa nos Alpes.

Os britânicos chegaram a temer que, no caso de uma invasão alemã bem sucedida às ilhas, Edward 8º fosse recolocado no trono, virando um rei-títere do Führer. 

Outro elemento faz toda a diferença: Edward 8º era o herdeiro da coroa, numa época em que o monarca britânico era bem menos decorativo do que hoje. Já Harry é o longínquo sexto da linha de sucessão, com uma probabilidade mínima de chegar ao trono. 

Uma Inglaterra nazista faria com que o mundo em que vivemos hoje fosse diferente. É por isso que, ao colocar a lupa na história de Edward 8º, o afastamento de Harry e Meghan parece apenas mais uma traquinagem tão típica do caçula do príncipe Charles.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.