As manifestações na Colômbia, iniciadas em 21 de novembro, começaram com 13 reivindicações. Logo, esse número aumentou para 104 e, depois, para 130.
Na última terça-feira (21), milhares de pessoas voltaram às ruas. A essas tantas bandeiras, adicionaram mais uma: um pedido de renúncia a algumas autoridades municipais que haviam tomado posse apenas 20 dias antes. Entre elas, a prefeita de Bogotá, Claudia López.
Eleita como um símbolo anti-establishment, López (centro-esquerda) havia animado os progressistas da capital.
É a primeira prefeita mulher da cidade, homossexual e alguém que vinha apoiando pessoalmente as manifestações, por ser bastante crítica à gestão do atual presidente, Iván Duque (centro-direita).
Porém, desta vez, López sentiu na pele o que é estar do outro do balcão. Apesar de ter dito que privilegiaria o diálogo e que o uso da força seria a última opção, acabou tendo de recorrer a ela.
Quando manifestantes começaram a atacar unidades do TransMilenio (sistema de ônibus interconectados, principal meio de transporte de Bogotá), López enviou uma tropa do temido Esmad (Esquadrão Móvel Antidistúrbios) para contê-los.
Ainda assim, não conseguiu evitar que 77 ônibus fossem danificados.
O episódio mostra como a instabilidade social e política na Colômbia está latente —e não parece ser um tema simples de embate entre esquerda e direita.
Apesar de surgir na sequência de outras manifestações na região, suas características são particulares, e uma solução que agrade a todos é praticamente impossível.
A Colômbia não tem um problema econômico grave. Fechou 2019 com um crescimento do PIB de 3,4% e uma inflação baixa, de 3,8%.
Seus principais problemas são sociais e políticos: as falhas na implementação do acordo de paz, que não tem conseguido evitar dissidências e mais violência; o assassinato de líderes comunitários, peças fundamentais desse processo; a dificuldade de dar perspectivas aos mais de 7 milhões de colombianos que foram obrigados a deixar suas casas (os chamados “desplazados”) por conta da violência e que hoje habitam subúrbios das grandes cidades; o desafio de lidar com o fluxo de refugiados venezuelanos e as demandas dos estudantes, que pedem melhorias na educação.
Duque anunciou um grande “diálogo nacional”. O único detalhe é que não há com quem conversar, pois não há líderes nesse movimento. López chegou pensando que, por ser opositora do presidente, seria poupada e podia até canalizar esse descontentamento.
Agora se vê que não é o caso, o que adiciona mais um item na longa lista de problemas: o país convive também com uma crise de representatividade.
Não é bom para a região que a Colômbia se descontrole. É o segundo país mais populoso da América do Sul e sua terceira maior economia.
Além das questões comerciais e diplomáticas que precisam ser mantidas, a Colômbia é peça fundamental para a recuperação da democracia na Venezuela e para a relação da região com os EUA.
Seria bom se os vizinhos pudessem fazer mais para ajudar os atores dessa crise a encontrarem um caminho para a solução de seus problemas.
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