Sylvia Colombo

Historiadora e jornalista especializada em América Latina, foi correspondente da Folha em Londres e em Buenos Aires, onde vive.

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Populistas como AMLO e Bolsonaro arriscam milhares ao dar as costas à ciência

México e Brasil caminham lentamente nas ações contra disseminação do coronavírus na América Latina

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O México e o Brasil caminham a passo de tartaruga nas ações a serem tomadas contra a disseminação do novo coronavírus na América Latina.

Ainda que as autoridades sanitárias de ambos os países tenham aumentado os esforços nos últimos dias, é inegável que, enquanto outras nações da região atuaram mais rapidamente para enfrentar o problema, com pragmatismo e, alguns, até com certo exagero (que é melhor do que nada), México e Brasil preferiram "deixar na mão de Deus", como fez Andrés Manuel López Obrador, ou afirmar que a pandemia não era tudo isso que a mídia está divulgando, como fez Jair Bolsonaro.

Duas atitudes irresponsáveis de líderes populistas, um de esquerda —AMLO, como é conhecido o mexicano—, e outro de direita.

O presidente Jair Bolsonaro em pronunciamento à imprensa no Palácio do Planalto, em Brasília
O presidente Jair Bolsonaro em pronunciamento à imprensa no Palácio do Planalto, em Brasília - Pedro Ladeira - 18.mar.20/Folhapress

O problema é que eles lideram os dois países mais populosos da América Latina, e talvez seja tarde demais quando resolverem tomar medidas severas.

Neste sentido, o argentino Alberto Fernández e o peruano Martín Vizcarra atuaram mais rapidamente, adotando protocolos e restrições duras. É claro que ninguém é ingênuo de pensar que isso não foi também uma jogada política dos dois líderes.

Ambos precisam se afirmar no poder. Fernández, porque tem de combater o consenso popular de que se elegeu apenas por ter tido o apoio da hoje vice-presidente, Cristina Kirchner.

E Vizcarra, porque acaba de atravessar uma crise política em que, sendo um vice elevado à posição de líder, fechou o Congresso, convocou novas eleições e agora luta para conseguir maioria no novo Parlamento.

Neste caso, porém, em que vidas de milhões de pessoas estão em jogo, esse oportunismo político vira uma coisa pequena.

Pode ser que, num futuro próximo, Fernández e Vizcarra sejam lembrados como os que atuaram com mais rigor e precisão diante da pandemia. E isso é bom para os argentinos, para os peruanos e para a região.

A Argentina atuou rapidamente. Primeiro com as recomendações para que idosos não saíssem de casa.

Depois, com um veloz e até traumático fechamento de fronteiras, que causou transtornos a estrangeiros no país e a argentinos no exterior, mas que vêm sendo resolvidos com voos de emergência.

Desde sexta-feira (20) rege uma rígida quarentena obrigatória. O apoio a Fernández, embora ainda não medido por institutos de pesquisa, visivelmente aumentou nesses dias, pois até a oposição compareceu para apoiá-lo na tomada de decisões. A população também vem reagindo bem.

E, enquanto ele anunciava a quarentena total do país, houve panelaços e "aplaudaços" em apoio aos médicos e a ele.

Além disso, não menos importante para o presidente, não se ouviu a voz de Cristina Kirchner.

Qualquer um que tenha estado na Argentina nas últimas semanas não tem dúvidas de que é Fernández quem tem as rédeas do país, por ora.

O tão adiado encontro entre Fernández e Bolsonaro vai ficando cada vez mais interessante.

Pode ser que o argentino, tão insultado pelo brasileiro, ao final tenha conselhos a dar, pelo menos no que diz respeito a acreditar na ciência e na necessidade de tomar decisões rápidas quando a vida da população está em jogo.

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