Sylvia Colombo

Historiadora e jornalista especializada em América Latina, foi correspondente da Folha em Londres e em Buenos Aires, onde vive.

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Sylvia Colombo
Descrição de chapéu Coronavírus

Jornalistas são essenciais em tempos de pandemia

Na América Latina, profissionais sofrem perseguição e risco de contaminação e de perda de emprego

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Na noite de 21 de março, agentes da Faes (Força de Ações Especiais da Polícia Venezuelana) entraram na casa do jornalista Darvinson Rojas, em Caracas.

Disseram a seus pais que tinham recebido uma denúncia de que havia alguém ali infectado pelo coronavírus. Encapuzados, os homens derrubaram o casal e levaram Rojas.

Havia semanas que o jornalista comparava as cifras de autoridades regionais com as divulgadas pela ditadura de Nicolás Maduro sobre casos confirmados e mortos por coronavírus.

Jornais argentinos, reunidos pela ADEPA (Associación de Periodismo Argentino), publicam capa com campanha de combate ao coronavírus
Jornais argentinos, reunidos pela ADEPA (Associación de Periodismo Argentino), publicam capa com campanha de combate ao coronavírus - Reprodução

A conclusão de Rojas foi de que o regime estava ocultando os números reais da pandemia na Venezuela.

Ficou preso por 12 dias e agora responde a processo por incitação ao ódio. Como ele, outros quatro jornalistas venezuelanos também foram detidos por contestar dados oficiais.

No Equador, durante a cobertura em Guayaquil, uma das cidades mais castigadas pelo vírus na América Latina, foram registradas as mortes de 13 profissionais da mídia.

Eles se contaminaram na cobertura das tristes imagens dos corpos deixados em ruas e praças. Outros repórteres, como Carlos Julio Gurumendi, do canal RTS, descompuseram-se ao vivo e caíram aos prantos durante as transmissões.

Gurumendi estava reportando um enterro coletivo com dezenas de caixões.

Em El Salvador e na Nicarágua, jornalistas de meios independentes como El Faro e El Confidencial contam que não conseguem ter acesso a informações oficiais sobre a pandemia, lutam contra a falta de transparência do governo e recebem constantes intimidações das autoridades ao trabalho que realizam.

No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro continua com sua campanha de gerar descrédito dos meios profissionais, como se a pandemia fosse uma conspiração inventada pelos mesmos. Enquanto isso, as cifras de infectados e mortos no país só fazem crescer.

Não são apenas governos que agem contra a existência de uma mídia livre. A economia também vem ameaçando a profissão.

Em vários países da América Latina, veículos vêm propondo a redução de salários ou mesmo demitindo repórteres, uma vez que o setor, que já não vinha em boa forma, também sofrerá as consequências da recessão que a pandemia está causando.

Detenções ilegais, perigo de se contaminar em campo ou de ficar psicologicamente abalado, além do risco de perder a fonte de renda, têm ameaçado os jornalistas justamente numa época em que seu trabalho é fundamental.

A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, chamou a atenção para o fato de que alguns países estariam usando a pandemia para calar jornalistas críticos.

"Não é o momento de culpar o mensageiro", disse a ex-presidente chilena. E ressaltou que uma imprensa livre é uma plataforma necessária para o debate sobre a pandemia, além de ajudar a instruir a população a como atuar, a derrubar fake news e a questionar as narrativas oficiais.

Esses tempos terríveis precisam de informação bem apurada e do debate crítico oferecidos pelo jornalismo profissional.

Para isso, é preciso zelar pela liberdade e pela saúde física, mental e financeira dos jornalistas.

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