Tabata Amaral

Cientista política, astrofísica e deputada federal por São Paulo. Formada em Harvard, criou o Mapa Educação e é cofundadora do Movimento Acredito.

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Bolsonaro, contraindicado para menores

Os únicos valores familiares que Bolsonaro defende são os de sua família; o resto é retórica, e uma especialmente danosa à nossa juventude

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Se eu tivesse filhos pequenos, pensaria duas vezes antes de deixá-los ver lives ou entrevistas com o presidente da República, Jair Bolsonaro. Meu receio seria que, ao verem o nosso chefe de Estado normalizando e propagando atitudes intolerantes e violentas, eles também começassem a banalizar o impacto profundo de tais comportamentos. Pois, contradizendo seu discurso, as condutas difundidas por Bolsonaro nada mais fazem do que ameaçar o bem-estar de nossas crianças.

Trazendo um exemplo recente, em sua live do dia 10 de setembro de 2020, Bolsonaro, além de incentivar o trabalho infantil, fez bullying com todos na sala, com falas gordofóbicas, homofóbicas e misóginas, enquanto conversava com uma youtuber mirim de apenas dez anos, Esther. Uma das muitas piadas feitas durante a conversa dizia que, em um ataque de um urso, o gordo seria a primeira vítima.

Bolsonaro chegou a apontar para um dos técnicos na sala, a quem chamou de “gordinho”, dizendo que, se o urso o comesse, passaria mal. Na mesma conversa, também insinuou repetidamente que Esther havia “começado cedo” sua vida sexual, além de rir quando a menina disse que era errado homem gostar de homem.

Em uma reunião ministerial, que contou com a participação da mesma youtuber mirim, Bolsonaro e os ministros caíram na gargalhada quando a menina perguntou se o Pantanal estava pegando fogo, omitindo-se diante da devastação de mais de 18% do bioma no último mês, resultado de práticas criminosas e do desmonte de políticas ambientais.

Talvez alguns de vocês estejam pensando que isso é bobagem. Afinal de contas, todos nós já ouvimos esse tipo de piada muitas vezes. No entanto, por mais corriqueiras que elas possam, infelizmente, parecer, não podemos ignorar o impacto de o presidente da República, com toda a autoridade e a audiência que vêm com o cargo, estar diariamente não só empurrando os limites do que consideramos “politicamente correto”, mas também promovendo uma grande inversão dos valores que, como nação, deveríamos promover.

A família-modelo cujos valores Bolsonaro defende é uma família que não admite o amor de pessoas do mesmo sexo, como não tolera gordos, sexualiza as crianças e solta gargalhadas quando vê a fauna e a flora do Pantanal serem destruídas.

Para termos uma ideia do impacto que tais atitudes podem exercer sobre os mais novos, uma pesquisa publicada em setembro de 2019 no Reino Unido mostrou que uma em cada cinco crianças que sofreram bullying consideraram tirar a própria vida, enquanto quase todas afirmaram ter sofrido ansiedade e perdido noites de sono. Não é difícil imaginar crianças fazendo piadas sobre o peso de colegas depois de ouvirem isso da boca do presidente.

Além disso, quando Bolsonaro faz chacotas misóginas e homofóbicas, ele banaliza e se torna cúmplice do fato de o Brasil ocupar o quinto lugar no ranking mundial de mulheres assassinadas simplesmente por serem mulheres, assim como estar no topo dos rankings de crimes de ódio contra pessoas LGBTQIA+ e de gravidez na adolescência.

A banalização de atitudes absurdas, quando não criminosas, segue sempre uma curva ascendente. Por isso, é urgente despertarmos deste torpor e denunciarmos o que, há muito, deixou de ser tolerável. Cada dia está mais evidente que os únicos valores familiares que Bolsonaro defende são os de sua família, como é o caso dos quase R$ 3 milhões pagos a funcionários fantasmas por seu núcleo familiar. O resto é retórica, e uma que, infelizmente, causa um dano enorme à nossa juventude.

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