Tabata Amaral

Cientista política, astrofísica e deputada federal por São Paulo. Formada em Harvard, criou o Mapa Educação e é cofundadora do Movimento Acredito.

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Planeta Terra na UTI

Desigualdade se agravará ainda mais com o aquecimento global

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Quem poderia imaginar que as palavras “pandemia” e “quarentena” se tornariam, em questão de dias, tão corriqueiras? Tudo indica que, para além desses termos, muitos outros se somarão ao nosso vocabulário até 2050. “Refugiados ambientais” e “calor letal” são alguns exemplos.

Se seguirmos no ritmo atual, a Terra aumentará sua temperatura em 3,6ºC até 2100, segundo relatório da UNFCCC, superando a meta de 2ºC do Acordo de Paris. Assim como com a Covid-19, não estamos todos no mesmo barco e o impacto do aquecimento global será muito maior entre os mais vulneráveis.

Com essa temperatura, teremos secas 11 vezes mais longas. A atual falta de chuva na bacia do rio Paraná nos ajuda a entender os impactos. Como a maior parte da nossa produção energética vem de hidrelétricas e investimos pouco em outras fontes renováveis, a diminuição da oferta de energia nos força a recorrer a termelétricas, mais caras e poluentes.

A alta de preços atinge principalmente os mais pobres, que são também os primeiros a sofrerem racionamento de água e energia. Ademais, a seca impacta ainda a produção agrícola, atingindo a distribuição de alimentos e a inflação.

Enquanto o Norte e o Nordeste sofrerão com a redução de chuvas, o Sul e o Sudeste terão o efeito contrário, segundo estudo do INPE, o que trará enchentes, alagamentos e deslizamentos de terra. Famílias que residem em encostas ou áreas de mananciais serão as mais afetadas.

E esse não será o único desafio a ser enfrentado pelos moradores das periferias. Com ondas de calor mais longas, aqueles que não têm acesso a sistemas de ventilação ou ar condicionado sofrerão mais e, quanto mais longo o trajeto da casa ao trabalho, maior será a exposição à poluição atmosférica.

88% dos brasileiros acreditam que o aquecimento global pode prejudicar muito as gerações futuras e 77% recusam um crescimento econômico que cause danos ambientais, de acordo com pesquisa do Ibope. Infelizmente, no entanto, a crise climática ainda é vista como secundária por boa parte da população e o plano de destruição patrocinado pelo governo Bolsonaro segue avançando, nos deixando poucos motivos de celebração neste Dia Mundial do Meio Ambiente.

É verdade que estamos lutando bravamente contra os inúmeros retrocessos e seguimos propondo avanços, como um projeto de precificação do carbono e uma PEC que coloca o direito a um clima estável e seguro na Constituição. Porém, enquanto esse debate continuar restrito a cientistas e ativistas e não incluir aqueles que serão os mais afetados, o planeta Terra continuará na UTI, em uma situação que pode rapidamente se tornar irreversível.

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