Tabata Amaral

Cientista política, astrofísica e deputada federal por São Paulo. Formada em Harvard, criou o Mapa Educação e é cofundadora do Movimento Acredito.

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Tabata Amaral

Combate à pobreza ou à desigualdade?

Essa resposta importa para todos que lutam por um país mais justo, democrático e desenvolvido

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Devemos combater a pobreza ou a desigualdade? Essa foi uma das perguntas feitas a mim no Programa Morning Show, da Jovem Pan. Enquanto, da esquerda à direita, as pessoas parecem concordar que precisamos pôr um fim à pobreza, o mesmo não pode ser dito sobre o combate à desigualdade.

Porém a diminuição da desigualdade deveria ser objetivo não só dos que sonham com sociedades mais justas, mas também daqueles que se preocupam com a nossa democracia e desenvolvimento econômico.

Altos níveis de desigualdade impactam a qualidade da democracia. Como argumentou Steven Levitsky e Daniel Ziblatt em "Como as Democracias Morrem", a crescente desigualdade econômica nos Estados Unidos ampliou os ressentimentos da população e aumentou a polarização. O aumento da distância entre concidadãos, ao ponto de ela parecer intransponível, cria um terreno fértil para populistas como Trump e Bolsonaro.

De fato, os cientistas políticos Derek Epp e Enrico Borghetto, após analisarem a produção legislativa de nove países europeus, concluíram que, quanto mais desigualdade, menos foco o Congresso dá a matérias relacionadas à justiça econômica, e mais atenção às questões de ordem social, como crime e imigração. Segundo eles, isso se deve às pressões dos mais ricos na agenda política do país.

Altos níveis de desigualdade impactam também as perspectivas e realizações das novas gerações. Em "A Tirania do Mérito", Michael Sandel argumenta que a desigualdade faz da meritocracia uma farsa.

Trazendo o exemplo do ingresso nas universidades americanas mais prestigiadas, não só há ricos que "compram" a entrada de seus filhos por meio de doações, como há também uma série de vantagens —o acesso a cursos preparatórios, as conexões e o capital cultural dos mais ricos, por exemplo— que tornam a competição completamente injusta.

Mas não precisamos ir tão longe. Milhões de alunos brasileiros não puderam estudar ao longo da pandemia, muitos por não terem acesso a internet e equipamentos.

Por fim, altos níveis de desigualdade impactam o desenvolvimento econômico dos países: a OCDE apontou como, devido ao fato de indivíduos desfavorecidos terem menos oportunidades educacionais, a desigualdade impacta a produtividade e o crescimento econômico de longo prazo das nações.

Ao que tudo indica, as mudanças climáticas, a globalização e a Revolução Tecnológica irão contribuir ainda mais para o aumento da desigualdade. Essa é mais uma razão para irmos além do combate à pobreza e tratarmos o enfrentamento aos altos níveis de desigualdade como um dos mais importantes desafios da nossa geração.

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