Tatiana Prazeres

Executiva na área de relações internacionais e comércio exterior, trabalhou na China entre 2019 e 2021

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Tatiana Prazeres
Descrição de chapéu Diplomacia Brasileira

Se com os EUA o céu é o limite, qual seria o teto do Brasil com a China?

Chineses esperam neutralidade do Brasil na guerra comercial com os EUA

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Jair Bolsonaro está em Pequim nesta sexta-feira (25) para sua primeira visita oficial à China. Além de ser de longe o maior parceiro comercial do Brasil, o gigante asiático tem investido como poucos no país.

A visita de Bolsonaro serve para alinhar posições de diferentes áreas do governo brasileiro e para dar impulso ao relacionamento bilateral. Também contribui para resolver demandas pendentes junto aos chineses —como bem sabe o setor agrícola. É útil ainda para estreitar laços, definir prioridades conjuntas e buscar soluções para problemas comuns.

Bem sucedida, a missão serve para estabelecer uma relação pessoal entre os dois líderes, o que pode ser útil especialmente numa hora difícil. A visita, ainda que curta, serve para fazer Bolsonaro se interessar mais pela China e, talvez, para ajudá-lo a rever algumas ideias.

Para a China, a presença de Bolsonaro em Pequim é algo com valor em si mesmo. É gesto que denota importância, apreço.

Bolsonaro será recebido com pompa, circunstância —e uma pulga atrás da orelha— por Xi Jinping. Os chineses ainda tentam entender o que o Brasil quer da China, sobretudo com tantas mudanças na política externa sob nova administração. Depois de o Brasil dizer que com os EUA o céu é o limite, qual seria o teto com a China?

Os chineses têm suas expectativas para a visita, plantando agora para tentar colher ao longo dos próximos anos. Querem trazer Bolsonaro para perto. Esperam neutralidade do Brasil na guerra comercial entre China e EUA. Querem que o Brasil não adote medidas discriminatórias contra empresas chinesas interessadas em investimentos no Brasil. Querem que o Brasil siga sendo um fornecedor confiável.

Querem que o Brasil não se intrometa em assuntos internos. Gostariam muito de ver o Brasil na Iniciativa do Cinturão e Rota. Esperam que o Brasil não se torne porta-voz das posições americanas.

E o que Bolsonaro deveria querer desta visita à China? Conversei nesta semana em Pequim com empresários brasileiros que acompanham a missão presidencial. A resposta de um deles me pareceu certeira: boa vontade. Simples assim, Bolsonaro, para começar, deveria querer boa vontade dos chineses, porque sem isso nada avança com a China. Outro emendou: Bolsonaro deveria querer desfazer o incômodo que surgiu com gestos truncados no passado. 

Pragmatismo foi palavra dita e repetida nessas conversas. Correndo bem, a visita pode preparar o terreno para avanços em temas como barreiras ao agronegócio, investimentos em energia, logística e telecomunicações, além de inovação, novas tecnologias e indústria 4.0, entre outras prioridades. 

Resumo da ópera: para empresários interessados na China, o grande resultado da viagem de Bolsonaro seria tranquilizar os chineses e ganhar em troca boa vontade, traduzida, por exemplo, em abertura de mercado para o agronegócio, maior interesse em investimentos no Brasil e melhores perspectivas para outros assuntos.

A visita é ótima oportunidade para desfazer alguns pontos de interrogação que ainda pairam no ar. Se colher boa disposição do governo chinês, melhoram muito as chances de avançar no que importa. Na China, em última instância, tudo é político —ou pode vir a ser. 

Nesta visita, Bolsonaro deveria querer demonstrar aos chineses que sabe deixar preferências políticas e posições ideológicas de lado e tratar a China como ela merece. Não é demais querer isso.

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