Tatiana Prazeres

Executiva na área de relações internacionais e comércio exterior, trabalhou na China entre 2019 e 2021

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Tatiana Prazeres

Crise do coronavírus testa compromisso chinês com economia verde

Só convicção na necessidade de transição energética pode fazer Pequim se manter no rumo traçado

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tão evidente quanto o ar poluído de Pequim é o grande avanço da China rumo a uma economia mais verde.

Em pouco tempo, o país se tornou referência mundial em energia solar e eólica, em veículos elétricos e baterias.

A China ajustou seu modelo de desenvolvimento econômico, passou a ser o maior mercado do mundo para energias renováveis e viu nascer campeões mundiais em tecnologias verdes.

Na área de painéis solares, por exemplo, partiu praticamente do zero na década de 1990 para, nos anos 2010, dominar o mercado mundial.

Painéis solares em Pingdingshan, na província de Henan
Painéis solares em Pingdingshan, na província de Henan - 7.jun.18/Reuters

A demanda na Alemanha, somada a incentivos chineses, serviram de pontapé inicial. Rapidamente, a China desenvolveu seu próprio mercado —e chegou primeiro a outros países europeus interessados em energia solar.

Os preços caíram a ponto de estimular a demanda em vários mercados, inclusive nos EUA. Ao mesmo tempo, a China, responsável por 27% das emissões globais de CO², ainda é a campeã mundial nesse quesito.

As emissões chinesas crescem 2% ao ano, representado quase metade do aumento mundial.

O consumo de carvão ainda é alto, mesmo que ele seja de melhor qualidade, e por isso menos poluidor, e que termoelétricas obsoletas estejam sendo fechadas.

Ainda que um avanço mais rápido seja desejável, a China está na direção correta em matéria de sustentabilidade.

A questão é quão inabalável é o compromisso do país com a economia verde diante desta imensa instabilidade e do temor de uma recessão global.

Para completar, com o preço do petróleo no subsolo, só a convicção profunda na necessidade da transição energética pode fazer Pequim se manter no rumo traçado.

Historicamente, crise ambiental e preocupações com segurança energética orientaram políticas chinesas em favor de uma matriz mais limpa e menos dependente tanto de petróleo quanto do carvão de baixa qualidade.

No entanto, as forças de hoje atuam em direção contrária.

Pré-coronavírus, já havia o receio de que a queda do ritmo do crescimento tivesse impactos negativos para políticas ambientais na China.

Ainda, a eleição de Trump e o anúncio da saída dos EUA do Acordo de Paris sobre o clima tiveram o efeito prático de diminuir a pressão sobre a China e sobre o mundo.

Pós-coronavírus, o risco para a economia verde na China aumenta, com novas urgências e prioridades políticas, com reorientação de esforços e recursos públicos.

Seguindo tendência já em curso, a Administração Nacional de Energia chinesa anunciou nesta semana que subsídios para novos projetos de geração de energia solar seriam reduzidos em 50%.

Incentivos para novos parques eólicos terminariam em 2021.

A orientação política na China, principalmente a partir de 2008, foi no sentido de colocar crescimento econômico e proteção ambiental do mesmo lado da equação.

Para isso, várias medidas foram tomadas para tornar energias renováveis mais acessíveis e para fazer com que a opção por uma matriz mais limpa também fizesse sentido financeiro.

Isso dito, no curto prazo, a gravidade da situação econômica pode ameaçar os esforços de combate à mudança climática.

Assim que as condições permitirem, haverá estímulos de todo o tipo para que a economia recupere o tempo perdido.

Em tempos de tsunami econômico, preservar credencias ambientais não será trivial.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.