Tão evidente quanto o ar poluído de Pequim é o grande avanço da China rumo a uma economia mais verde.
Em pouco tempo, o país se tornou referência mundial em energia solar e eólica, em veículos elétricos e baterias.
A China ajustou seu modelo de desenvolvimento econômico, passou a ser o maior mercado do mundo para energias renováveis e viu nascer campeões mundiais em tecnologias verdes.
Na área de painéis solares, por exemplo, partiu praticamente do zero na década de 1990 para, nos anos 2010, dominar o mercado mundial.
A demanda na Alemanha, somada a incentivos chineses, serviram de pontapé inicial. Rapidamente, a China desenvolveu seu próprio mercado —e chegou primeiro a outros países europeus interessados em energia solar.
Os preços caíram a ponto de estimular a demanda em vários mercados, inclusive nos EUA. Ao mesmo tempo, a China, responsável por 27% das emissões globais de CO², ainda é a campeã mundial nesse quesito.
As emissões chinesas crescem 2% ao ano, representado quase metade do aumento mundial.
O consumo de carvão ainda é alto, mesmo que ele seja de melhor qualidade, e por isso menos poluidor, e que termoelétricas obsoletas estejam sendo fechadas.
Ainda que um avanço mais rápido seja desejável, a China está na direção correta em matéria de sustentabilidade.
A questão é quão inabalável é o compromisso do país com a economia verde diante desta imensa instabilidade e do temor de uma recessão global.
Para completar, com o preço do petróleo no subsolo, só a convicção profunda na necessidade da transição energética pode fazer Pequim se manter no rumo traçado.
Historicamente, crise ambiental e preocupações com segurança energética orientaram políticas chinesas em favor de uma matriz mais limpa e menos dependente tanto de petróleo quanto do carvão de baixa qualidade.
No entanto, as forças de hoje atuam em direção contrária.
Pré-coronavírus, já havia o receio de que a queda do ritmo do crescimento tivesse impactos negativos para políticas ambientais na China.
Ainda, a eleição de Trump e o anúncio da saída dos EUA do Acordo de Paris sobre o clima tiveram o efeito prático de diminuir a pressão sobre a China e sobre o mundo.
Pós-coronavírus, o risco para a economia verde na China aumenta, com novas urgências e prioridades políticas, com reorientação de esforços e recursos públicos.
Seguindo tendência já em curso, a Administração Nacional de Energia chinesa anunciou nesta semana que subsídios para novos projetos de geração de energia solar seriam reduzidos em 50%.
Incentivos para novos parques eólicos terminariam em 2021.
A orientação política na China, principalmente a partir de 2008, foi no sentido de colocar crescimento econômico e proteção ambiental do mesmo lado da equação.
Para isso, várias medidas foram tomadas para tornar energias renováveis mais acessíveis e para fazer com que a opção por uma matriz mais limpa também fizesse sentido financeiro.
Isso dito, no curto prazo, a gravidade da situação econômica pode ameaçar os esforços de combate à mudança climática.
Assim que as condições permitirem, haverá estímulos de todo o tipo para que a economia recupere o tempo perdido.
Em tempos de tsunami econômico, preservar credencias ambientais não será trivial.
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