Tatiana Prazeres

Executiva na área de relações internacionais e comércio exterior, trabalhou na China entre 2019 e 2021

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Descrição de chapéu Coronavírus

Corrida por vacina para Covid-19 se dá em momento de pouca cooperação internacional

Rivalidades não deveriam impedir ajuda mútua no combate ao coronavírus

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Esta coluna foi produzida especialmente para a campanha #CientistaTrabalhando, que celebra o Dia Nacional da Ciência. Ao longo do mês de julho, colunistas cedem seus espaços para abordar temas relacionados ao processo científico, em textos escritos por convidados ou por eles próprios. O artigo abaixo foi escrito em conjunto com a doutora Maria Augusta Arruda, da Universidade de Nottingham.

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A corrida global por uma vacina contra a Covid-19 acontece num momento em que há pouquíssima disposição para cooperação internacional. Pois deveria haver, afinal nenhum país estará seguro enquanto os demais não estiverem. A lógica do cada um por si faz pouco sentido no combate a uma pandemia, um problema global por definição.

A cooperação aceleraria esforços para a descoberta de uma ou mais vacinas seguras e eficazes contra o novo coronavírus. A troca de informações entre os grupos de pesquisa envolvidos nesses esforços em diferentes países tem o potencial de encurtar caminhos da ciência.

Técnico de laboratório dedicado à formulação de vacinas prepara tanques da farmacêutica francesa Sanofi em Val-de-Reuil
Técnico de laboratório dedicado à formulação de vacinas prepara tanques da farmacêutica francesa Sanofi em Val-de-Reuil - Joel Saget - 10.jul.20/AFP

No mundo ideal, cientistas também teriam um papel chave na definição de critérios para a distribuição internacional dos primeiros lotes da vacina, enquanto a produção ainda for limitada. A ciência poderia contribuir para que o emprego da imunização seja direcionado de modo mais eficaz.

No mundo real, tudo indica que a proteção chegará primeiro aos países que puderem pagar por ela e àqueles que participam dos consórcios para a produção da candidata que venha a ter sucesso. Acordos de compra antecipada já estão sendo assinados por aqueles que têm condições. Quem não tem, irá para o final da fila.

O problema não é novo, como lembram Chad Bown e Thomas Bollyky num artigo na última edição da revista Foreign Affairs.

Em 2009, uma vacina foi desenvolvida contra o vírus H1N1. Países ricos compraram praticamente toda a produção inicial. Depois de apelos da Organização Mundial da Saúde, nações como Austrália, Canadá e EUA concordaram em compartilhar 10% dos seus estoques com países mais pobres.

Mas nem os mais ricos estão hoje numa posição segura. Podem estar apostando nas vacinas erradas. No caso dos EUA, são US$ 13 bilhões (R$ 67 bilhões) em pesquisas de seus laboratórios e institutos de pesquisa.

Apesar disso, nada exclui a possibilidade de que esforços europeus ou chineses se mostrem mais bem-sucedidos.

A mesma lógica vale para europeus e chineses (e todo o mundo), caso a primeira vacina disponível seja uma financiada pelos EUA. Melhor seria conversar antes.

É inevitável que, em algum grau, haja disputa pelo acesso a uma eventual vacina para Covid-19. Mas não precisaria ser a lei da selva. Se nada mudar, infelizmente será. Para desespero não apenas de quem estará no final da fila, mas também em prejuízo de uma solução mais rápida para o drama humano, econômico e social causado pela pandemia.

Antes que se diga ser impossível a cooperação num momento destes, vale mencionar que há esforços em curso.

Uma aliança que envolve mais de cem países, além de grandes doadores e organismos internacionais, por exemplo, busca levantar recursos, investir simultaneamente em vários candidatos a vacinas e, de antemão, aumentar a capacidade de produção para quando uma existir.

Coliderado pela OMS e com o apoio de grandes como a Fundação Bill & Melinda Gates, o objetivo do projeto Covax é vacinar os 20% mais vulneráveis de cada um dos países participantes, num total de 2 bilhões de doses até o final de 2021. É um começo.

A história também oferece lições inspiradoras de cooperação em meio a grandes rivalidades. No auge da Guerra Fria, EUA e União Soviética colaboraram para que os esforços do cientista Albert Sabin resultassem na erradicação da poliomielite em praticamente todo o mundo.

Essa cooperação entre arqui-inimigos resultou no mais bem sucedido programa de vacinação da história da humanidade.

O combate à Covid-19 claramente pode se beneficiar de mais ciência e de mais cooperação internacional. Se há um momento de pensar o que parece impossível, é este.

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