Parabéns, dra. Ngozi Okonjo-Iweala. Se tudo correr como previsto, na próxima segunda-feira (15), os 164 membros da Organização Mundial do Comércio, por consenso, endossarão seu nome para o comando da instituição.
Num mundo onde consensos são escassos, o fato de EUA, China e tantos outros conseguirem chegar a um acordo em relação à chefia da OMC justifica alguma esperança.
Além disso, a prioridade dada por Joe Biden ao desbloqueio desse processo de seleção é um bom sinal. Ao levantar o veto do governo Trump ao seu nome, Biden removeu, espera-se, o último obstáculo para que a OMC tenha nova chefia.
O resultado é positivo em si, mas é também indício de uma nova postura dos EUA na OMC. Os desafios para Organização seguem sendo enormes, mas não havia esperança enquanto os EUA jogavam contra.
A escolha do seu nome é também motivo de júbilopara todos que defendem maior participação das mulheres em posições de comando. Não é pouco ser a primeira mulher a chefiar a organização em 25 anos de história. Sendo ainda negra e africana, o ineditismo e o simbolismo da decisão não poderiam ser maiores.
O trabalho difícil começa agora. As expectativas são altas, e seu poder não é ilimitado. As regras dizem que são os membros, e não o diretor-geral, que têm o poder de decisão. Mas a verdade é que se os membros quiserem fazer qualquer coisa, vão precisar contar com você. E é justamente aí que seu poder reside. Você tem capacidade de atuar nos bastidores para que os membros se entendam e avancem.
O problema é que não há uma visão compartilhada sobre que rumos a OMC deveria tomar. Uns querem abrir, outros fechar suas economias para o comércio. Uns querem reduzir distorções causadas por subsídios, e outros querem poder subsidiar mais sua produção. Uns acham que o comércio ajuda, e outros, que atrapalha. Uns querem um tribunal que resolva disputas, e outros têm dúvidas. Com 164 membros e uma organização que opera na base do consenso, vencer o imobilismo é tarefa árdua.
Munida de boa dose de realismo, você pode ajudar a construir uma OMC mais flexível. Uma das maneiras de atingir esse objetivo é viabilizar acordos que não envolvam todos os 164 ao mesmo tempo. A organização precisa facilitar entendimentos entre os interessados, desde que não prejudiquem os membros que escolham ficar de fora ou entrar depois.
Acordos com essas características estão sendo negociados nas áreas de comércio eletrônico e facilitação de investimentos. Se você ajudar a concretizá-los, fará diferença para a Organização. A OMC serámais dinâmica e eficaz se as negociações em formatos menores forem mais comuns.
Outra forma de fazer a OMC mais flexível é valorizar entendimentos que não sejam compromissos jurídicos vinculantes. Geram menos resistência do que tratados internacionais e podem sim influenciar políticas públicas dos membros. Boas práticas, diretrizes e outros instrumentos vistos como “soft” têm grande valor -não apenas em comparação com a alternativa de não produzir nada, mas também porque eles ajudam a promover convergência internacional.
Entendimentos —mesmo que flexíveis— envolvendo vacinas e insumos médico-hospitalares seriam muitíssimo bem-vindos. Aproveite a lua de mel com os membros e sua larga experiência com cooperação em vacinas para começar com o pé direito.
Com o tempo, se você ajudar a construir uma organização mais flexível e de maior credibilidade, terá dado enorme contribuição à OMC e aos seus membros. Sucesso a você —o mundo precisa dele.
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