Tatiana Prazeres

Executiva na área de relações internacionais e comércio exterior, trabalhou na China entre 2019 e 2021

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Descrição de chapéu Ásia

Um investidor chinês para chamar de seu

No Brasil, 23 das 27 unidades da Federação já contam com investimentos chineses

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Quando a Ford anunciou neste ano o encerramento das operações no Brasil, governadores olharam para a China em busca de empresas interessadas nas instalações que ficariam para trás.

Quando a Mercedes comunicou o fechamento da fábrica no interior de São Paulo, foi também para os chineses que as atenções se voltaram.

Armazém de grãos da empresa chinesa Cofco, às margens de rodovia entre as cidades de Sinop e Sorriso, em Mato Grosso - Zanone Fraissat/Folhapress

Não sem motivo. Em pouco tempo, a China se posicionou como um dos maiores investidores no Brasil.
O foco das empresas chinesas ampliou-se ao longo dos anos.

A chamada primeira onda de investimentos, até 2010, tinha como objetivo garantir acesso a produtos básicos, como petróleo, minérios e soja.

Num segundo momento, os chineses passaram a enxergar o Brasil também como um mercado consumidor e, assim, vieram investimentos no setor industrial, como em carros, motocicletas e aparelhos de ar-condicionado.

A terceira onda foi marcada por investimentos em serviços, especialmente na área financeira e em transporte por aplicativo. Depois, na quarta fase, ocorreram operações vultosas em energia elétrica e infraestrutura no Brasil.

Apesar de a trajetória sugerir diversificação, os investimentos são concentrados no setor de energia, incluindo eletricidade e petróleo, o que responde por 76% do valor total, segundo um estudo do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) que será lançado em 5 de agosto.

Vários analistas esperavam que, com a crise econômica associada à pandemia, a China fosse ampliar seus investimentos no exterior. Foi assim em 2008, quando a crise financeira desvalorizou ativos mundo afora e fez aumentar o apetite chinês por bons negócios.

Agora, no entanto, mesmo com a moeda valorizada, os chineses não foram às compras, para a frustração de muitos. Desde o auge em 2016, a China passou a ser mais criteriosa ao investir no exterior, inclusive em função de novas exigências legais. Em 2020, manteve o fluxo de investimentos no exterior elevado, mas não o expandiu como na crise anterior.

Em vez de investir mais, a China reavalia estratégias e tira o pé do acelerador. Reconsidera projetos inclusive no contexto da Nova Rota da Seda. Ao mesmo tempo, por tensões geopolíticas, o investimento chinês tem encontrado mais resistência em países como EUA, Austrália e mesmo na Europa.

Além disso, empresas de vários setores veem boas oportunidades no próprio mercado chinês —que, em 2020, foi o campeão mundial de atração de investimento externo direto (IED). Enquanto os fluxos globais caíram em mais de 30%, o IED para a China subiu. A percepção de muitas empresas chinesas é de que os bons negócios estão no próprio país.

Quando, em 2019, o governo brasileiro buscava investidores estrangeiros para dois leilões do pré-sal, Bolsonaro usou a visita à China para promover os projetos.

A realização dos leilões logo depois revelaria que, se não fosse pelas empresas chinesas, não haveria estrangeiros interessados no investimento.

Em 2018, o então candidato havia dito que a China não queria “comprar do Brasil”, mas queria sim “comprar o Brasil”. Pois não demorou para que viesse a Pequim buscar mais investimento chinês. As cenas dos próximos capítulos incluem o desenrolar da privatização da Eletrobrás.

Hoje, das 27 unidades da Federação, 23 contam com investimentos chineses, segundo o estudo do CEBC. Atrair investimentos é um grande objetivo de governadores nos seus contatos com a China.

Já era assim antes da pandemia, passa a ser ainda mais agora. O fluxo de IED no Brasil despencou assombrosos 62% em 2020, segundo a Unctad. E é justamente em tempos bicudos que esses investimentos são especialmente necessários.

Todo mundo quer um investidor chinês para chamar de seu —até mesmo Bolsonaro, relutantemente.

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