Tatiana Prazeres

Executiva na área de relações internacionais e comércio exterior, trabalhou na China entre 2019 e 2021

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Descrição de chapéu Coronavírus Ásia

Variante delta contamina estratégia chinesa de tolerância zero

Surto provoca reflexão sobre rumos da política de combate à pandemia

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Quando o tabloide nacionalista chinês Global Times diz que a China vive o pior surto de Covid-19 desde a crise em Wuhan, é melhor prestar atenção. Há mais de um ano, o jornal vem contrastando o caos fora da China com a ordem no país. Agora, soou o alarme.

A variante delta chegou à China e provoca discussões a respeito dos rumos da sua estratégia de tolerância zero à Covid.

Criança faz teste para detecção do coronavírus em Yangzhou, no leste da China
Criança faz teste para detecção do coronavírus em Yangzhou, no leste da China - AFP

Até agora, a política aqui tem sido a de eliminar a presença do vírus no país —em vez de conviver com um número baixo de infecções. Há um ano e meio, vários pequenos surtos foram combatidos na marra, mas com sucesso.

Na semana passada, dois casos foram confirmados em Pequim depois de quase seis meses sem registro oficial do vírus na cidade. Em três dias, 654 pessoas que poderiam ter tido alguma exposição ao vírus foram localizadas e colocadas em isolamento médico. São indivíduos que, por exemplo, estiveram no metrô ao mesmo tempo em que o casal que teve a infecção confirmada.

No bairro onde os dois moram, 38 mil pessoas foram testadas e vários condomínios foram postos em lockdown, afetando mais de 41 mil pessoas. Por dois casos, numa cidade de mais de 21 milhões de habitantes.

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A nova onda de Covid chegou a pelo menos 17 províncias do país, onde medidas similares estão sendo adotadas. A situação atual evidencia que a tolerância zero, com ganhos inegáveis, também embute custos altos.

Mesmo na China, eliminar o vírus não é nada trivial apesar de o país ter contido a pandemia e estar praticamente fechado para estrangeiros desde março de 2020.

Muitos se perguntam quando, afinal, a China vai aprender a conviver com o vírus. Estrangeiros especulam quando o país reabrirá as fronteiras. Muitos observadores, misturando análise com preferências pessoais, dizem que a tolerância zero é insustentável por muito mais tempo. Apostam que, à medida que Europa e EUA reabram suas fronteiras, a China será pressionada a seguir. Repetem que a maior potência comercial do mundo terá logo que se abrir.

E terá mesmo? A economia vai bem. O fechamento das fronteiras não impediu o crescimento do PIB da China em 2020. Nem de suas exportações, nem do influxo de investimento estrangeiro. A avaliação dos chineses sobre o combate à Covid-19 no país é altamente positiva. Por que Pequim teria pressa?

Mas a China precisa de uma estratégia de saída para sua política da tolerância zero, certo? Precisa. E aí, novamente, com as lentes embaçadas por valores e desejos pessoais, muitos observadores veem na crise atual a grande oportunidade para que Pequim mude a estratégia e passe a tolerar a presença do vírus, num nível baixo, especialmente agora que mais de 1,7 bilhão de doses de vacina já foram administradas no país.

No entanto, a lição que as autoridades chinesas tirarão da crise atual é a oposta —vão apertar, e não afrouxar, a política de tolerância zero. A porta de saída para a estratégia em curso apenas ficou mais distante. Previstas para fevereiro de 2022, as Olimpíadas de Inverno em Pequim são, nesse contexto, um problema. ​

O Global Times diria que o surto atual não é sinal de fracasso da estratégia de tolerância zero, mas prova de que ela funcionou bem até agora. Diria que, apertando uns parafusos, pode ainda melhorar. A resposta ao problema será reforçar o controle —uma especialidade local, aprimorada com a pandemia.

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