Tatiana Prazeres

Executiva na área de relações internacionais e comércio exterior, trabalhou na China entre 2019 e 2021

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Descrição de chapéu China

Após 25 anos, modelos de China e Hong Kong estão mais próximos que nunca

Território hoje se assemelha à parte continental mais do que muitos imaginavam ou desejavam

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Há 25 anos, Hong Kong voltava ao comando chinês. O Reino Unido devolveu a região à China, que por sua vez se comprometeu a preservar direitos e liberdades ali existentes. A fórmula conhecida por "um país, dois sistemas" foi central no acordo entre Margaret Thatcher e Deng Xiaoping.

O arranjo 1-2 foi refletido na Lei Básica de Hong Kong: "O sistema e as políticas socialistas não serão praticados na Região Administrativa Especial de Hong Kong, e o sistema e o modo de vida capitalistas deverão permanecer inalterados por 50 anos" (Artigo 5º). Entretanto, o Artigo 1º não deixa dúvidas: "Hong Kong é parte inalienável da China".

O líder da China, Xi Jinping, à dir., junto ao novo chefe-executivo de Hong Kong, John Lee, ao centro, e ao diretor de imigração do território, Au Ka-wang, no aniversário de 25 anos da devolução da cidade a Pequim
O líder da China, Xi Jinping, à dir., junto ao novo chefe-executivo de Hong Kong, John Lee, ao centro, e ao diretor de imigração do território, Au Ka-wang, no aniversário de 25 anos da devolução da cidade a Pequim - Selim Chtayti/AFP

Hong Kong foi ocupada pelos britânicos a partir de 1841, na Primeira Guerra do Ópio. "Tratados desiguais e injustos", como dizem os chineses, conferiram base à presença britânica na região por mais de 150 anos. A área ocupada foi expandida duas vezes, sendo que, na última, houve um aluguel de territórios chineses por 99 anos. Pois esse aluguel venceu em 1997, ano que veio a marcar o fim da presença do Império Britânico na China.

Ao longo desse último quarto de século, Hong Kong serviu como ponte entre a China e o resto do mundo. Facilitou a integração chinesa à economia e especialmente ao mercado financeiro internacional. Em 1997, Hong Kong representava 18,4% do PIB chinês.

Muitos antecipavam que até 2047, ao fim dos 50 anos de vigência da fórmula 1-2, a China adotaria um modelo político mais palatável ao Ocidente —e as relações com Hong Kong contribuiriam para isso. Em meados dos anos 1990, acreditava-se que a abertura econômica, em curso naquela década, levaria à abertura política; havia um certo triunfalismo associado à ideia de que o modelo das democracias liberais seria o destino natural da humanidade.

Entretanto, a Hong Kong de 2022, no meio do caminho na trajetória dos 50 anos, é mais parecida com a China continental do que muitos imaginavam, ou desejavam, no momento da devolução.

Em 2019, grandes manifestações pró-democracia tomaram as ruas de Hong Kong por meses, fortalecendo vozes pró-independência, ainda que minoritárias. Os protestos testaram a paciência das autoridades de Pequim, focadas no Artigo 1º da Lei Básica: um país, não dois.

A resposta veio, não com tanques, mas com uma Lei de Segurança Nacional que tirou o oxigênio das manifestações. Jornais fecharam, milhares de manifestantes foram presos, e o controle sobre Hong Kong aumentou. Decerto, algo muito diferente do que Thatcher esperava.

Pequim pode, ao menos por ora, ter resolvido seus problemas com Hong Kong —mas os impactos se sentiram também longe dali. Com a Lei de Segurança Nacional, a credibilidade do modelo 1-2 foi minada em Taiwan. Inviabilizou-se, de vez, um arranjo que, na visão de alguns, poderia servir de base para a reunificação pacífica com a dita província rebelde. O novo modus vivendi entre Pequim e Hong Kong inquieta os taiwaneses.

Ademais, com o tempo, o peso econômico de Hong Kong foi eclipsado pelo crescimento chinês. Dos 18,4% em 1997, a região respondeu, em 2020, por 2,3% do PIB da China. Aliás, o PIB da cidade de Shenzhen ultrapassou o honconguês em 2018. Os vínculos econômicos estreitos de Hong Kong com a China continental têm, naturalmente, implicações políticas. Fizeram muitos empresários, por exemplo, apoiarem a intervenção de Pequim para conter os protestos de 2019.

Passados 25 anos do experimento de "um país, dois sistemas" em Hong Kong, e a 25 anos do seu fim, o modelo político chinês e o da ex-colônia britânica estão mais próximos que nunca. Mas da maneira oposta àquela que muitos imaginavam.

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