Tatiana Prazeres

Executiva na área de relações internacionais e comércio exterior, trabalhou na China entre 2019 e 2021

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Tatiana Prazeres

EUA e China mostram que formar e valorizar talentos é essencial na ciência

Brasil tem muito a aprender na valorização das carreiras científicas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Esta coluna foi escrita em conjunto com a pesquisadora Fernanda De Negri para a campanha #ciêncianaseleições, que celebra o Mês da Ciência. Em julho, colunistas cedem seus espaços para refletir sobre como a ciência deve participar da reconstrução do Brasil.

Mundo afora, políticas públicas bem-sucedidas para ciência e tecnologia são sustentadas num tripé que inclui recursos, instituições e, sim, capital humano.

A ênfase na qualificação para as ciências, tecnologias, engenharias e matemática (as chamadas áreas Stem, no acrônimo em inglês) permeia políticas educacionais dos países que levam o tema a sério. Essa preocupação vai desde a educação básica, quando se desperta o interesse pelo assunto, até programas específicos na graduação e na pós-graduação.

Crianças participam de grupo de ciências em Yinchuan, no norte da China - Feng Kaihua/Xinhua

Além de formar pessoas qualificadas nessas áreas, muitos países também apostam na atração de talentos. Os EUA, por exemplo, acabam de lançar um programa para facilitar e ampliar a concessão de vistos para cientistas estrangeiros. O país reconhece que uma de suas forças na produção de ciências está, justamente, nos imigrantes qualificados e no imenso volume de pesquisadores vindos de todos os cantos do mundo.

Mas não basta apenas formar e atrair talentos. É preciso também criar oportunidades de trabalho para esses profissionais.

Nos EUA, um cientista recém-formado conta com inúmeras possibilidades de inserção profissional: na indústria, em centenas de universidades e em instituições públicas ou privadas voltadas para pesquisa, como os Laboratórios Nacionais ou os Institutos Nacionais de Saúde (NIH). Mesmo dentro desses lugares são várias as possibilidades de carreiras. A diversidade institucional nos EUA é chave para o dinamismo do mercado de trabalho dos seus cientistas.

Na China, por sua vez, é nítido o esforço de promover o prestígio dos cientistas, numa mudança radical em relação aos anos da Revolução Cultural (1966-76), em que eles, junto com acadêmicos e intelectuais, eram perseguidos por serem "inimigos do povo".

No ano passado, por exemplo, uma multidão participou das últimas homenagens a Yuan Longping, conhecido no país como o pai do arroz híbrido. Movido pela experiência da grande fome nos anos 1960, o agrônomo dedicou-se a aumentar a produtividade do arroz. Sua morte, aos 90 anos, causou enorme comoção. Com funeral comparado do de Deng Xiaoping, foi tratado como herói nacional.

Neste ano, a imprensa chinesa deu destaque ao retorno do premiado matemático Yau Shing-tung ao país, depois de décadas ensinando em Harvard. Nutrir talentos e estimular o interesse dos jovens pelas ciências seria, segundo ele, sua missão na Universidade de Tsinghua.

Em shoppings de Pequim, aulas particulares valorizam as ciências. "Esqueça as princesas, seja uma cientista de dados", dizia a propaganda da escola que vendia curso de programação como atividade extracurricular para crianças. A sociedade —e as famílias— valorizam a educação. E são incentivadas pelo Estado a canalizar seus esforços e recursos para as Stem.

O Brasil tem muito a aprender na valorização das carreiras científicas. Desde o ensino básico, nossas notas em ciências e matemática na avaliação internacional de alunos (o Pisa) estão muito abaixo da média mundial. O país possui apenas pouco menos de 900 cientistas por milhão de habitantes, comparado com mais de 4.000 nos EUA. A indústria brasileira emprega, segundo a pesquisa de inovação tecnológica, pouco mais de 11 mil cientistas e pesquisadores, número que deveria ser muito maior.

Um cientista recém-formado e bem qualificado deveria ter diversas opções profissionais, além da docência. Sair do país não deveria ser a principal delas. Nutrir talentos requer boa formação e valorização da carreira desses profissionais, sem os quais não há ciência nem tecnologia.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.