Tatiana Prazeres

Executiva na área de relações internacionais e comércio exterior, trabalhou na China entre 2019 e 2021

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Descrição de chapéu China

Batalha dos chips entre EUA e China expõe estratégia de sufocamento

Diante dos esforços de Pequim no grupo de elite dos semicondutores, nada serviu de incentivo tão poderoso

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Muitos se surpreendem com o fato de que semicondutores são, de longe, o principal item de importação da China. A vulnerabilidade do país nessa área foi percebida em Washington como oportunidade.

EUA e China hoje protagonizam uma batalha dos chips, emblemática da competição tecnológica, econômica e geopolítica do mundo contemporâneo. Limitar o acesso chinês a semicondutores avançados e a insumos e máquinas para produzi-los foi a linha endossada pelos EUA.

A estratégia do sufocamento caiu no gosto dos "hawks" americanos, e abrir mão dela seria visto como sinal de fraqueza. Nesta sexta (7), Washington adotou mais uma leva de restrições às exportações para a China com esse objetivo.

Chip em centro de pesquisa de semicondutores de Taiwan - Ann Wang - 16.set.22/Reuters

Semicondutores estão na base de todas as tecnologias do presente e do futuro, desde seu próximo aparelho celular até inteligência artificial e computação quântica. Esses produtos envolvem cadeias produtivas complexas, cujos elos críticos, no entanto, estão concentrados em poucas empresas e mercados.

Centro das atenções geopolíticas, Taiwan concentra 90% da produção de semicondutores avançados —e numa única empresa. A taiwanesa TSMC, entretanto, depende do design desses semicondutores, um segmento de alta tecnologia dominado por empresas americanas como Qualcomm, Nvidia e Apple. Também necessita de equipamentos sofisticados para produzir chips de última geração, e eles vêm basicamente de uma única empresa, a holandesa ASML.

A Lei dos Chips dos EUA, promulgada em agosto, busca estimular a produção de semicondutores avançados em território americano. Dessa etapa da produção também participam a coreana Samsung e a americana Intel.

Biden busca coordenar posições tanto para aumentar a eficácia das medidas contra a China quanto para socializar o prejuízo que suas empresas têm ao serem privadas do mercado chinês. Quer que esse custo seja compartilhado. Fala-se na criação de uma espécie de Opep dos chips.

A China busca há anos se juntar à primeira liga do campeonato dos semicondutores. Já investiu centenas de bilhões de dólares no setor e tenciona produzir 70% dos chips de que precisa. Várias de suas empresas têm feito avanços em elos diferentes da cadeia —mas elas ainda estão distantes dos chips mais avançados de Taiwan. Produzem o chip commodity.

Quando Pequim desenhou mais um pacote de incentivos para o setor em 2020, o anúncio foi acompanhado de um conjunto de três "nãos": empresas sem experiência, sem tecnologia e sem talentos na área não deveriam se aventurar com recursos públicos. Ainda assim, naquele ano, estima-se que mais de 50 mil empresas tenham sido criadas no setor, várias delas evidentemente apenas pelas benesses.

Muitos apontam o setor de semicondutores como o grande fracasso da política industrial chinesa. É precipitada a conclusão. A maior produtora do país, a SMIC, anunciou há pouco um salto tecnológico importante e o fez em menos tempo que as concorrentes. Durante o lockdown rigoroso em Xangai neste ano, a empresa não parou. Obteve uma autorização especial para que dois terços dos seus empregados pudessem dormir na fábrica, que operou em circuito fechado em relação ao restante da cidade.

É uma questão de tempo —de recursos, talentos, investimentos em pesquisa e desenvolvimento— para a China participar da briga dos grandes. A estratégia do sufocamento coordenado faz o país convencido da necessidade de dobrar a aposta na autossuficiência. Aos poucos, junto com sinais de fracasso, surgem os de progresso.

Em décadas de esforços da China para entrar no grupo de elite dos semicondutores, nada serviu de incentivo tão poderoso como as medidas dos que querem contê-la.

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