Tatiana Prazeres

Executiva na área de relações internacionais e comércio exterior, trabalhou na China entre 2019 e 2021

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Há espaço para Brasil colaborar com China em sustentabilidade e mudanças climáticas

Abrem-se possibilidades agora que tema voltará a ser prioritário e que aumentará a boa vontade de Brasília com Pequim

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Pode parecer contraintuitivo, mas faz sentido para o Brasil explorar seriamente as oportunidades nas áreas de sustentabilidade e mudanças climáticas com a China, país campeão mundial de emissões de CO₂.

Abrem-se novas possibilidades agora que o tema voltará a ser prioritário e que aumentará a boa vontade de Brasília em relação a Pequim. Faz todo o sentido cooperar com outros também, mas isso surpreende menos.

Painéis solares em plantação de pimenta em Bijie, na província chinesa de Guizhou
Painéis solares em plantação de pimenta em Bijie, na província chinesa de Guizhou - 16.ago.22/AFP

Nos últimos anos, ademais, enquanto negacionistas não prestavam atenção, muito aconteceu na China em matéria de sustentabilidade. Pequim assumiu compromissos internacionais de descarbonização.

Tecnologias verdes se disseminaram rapidamente, incluindo nas áreas de energia solar, eólica e de veículos elétricos. Fundos de finanças verdes se multiplicaram. Em Xangai, o maior mercado de carbono do mundo entrou em funcionamento. Em Kuqa, a maior fábrica de hidrogênio verde do planeta está sendo construída.

A China quer se posicionar na vanguarda da transição para a economia de baixo carbono, o que não é trivial, dada sua alta dependência do carvão. Além disso, é má notícia o aumento na produção do combustível fóssil no país, motivado por segurança energética. Mas erra quem pensa que a descarbonização da China é conversa fiada.

Sustentabilidade e tecnologia devem servir para atualizar e dinamizar o relacionamento bilateral —e essas agendas se complementam às frentes já consolidadas de comércio e investimentos. Na relação Brasil-China, a visão de futuro precisa privilegiar temas como agropecuária de baixo carbono, finanças verdes, mobilidade sustentável, biotecnologia agrícola, energias renováveis, cidades inteligentes, além de agricultura e indústria 4.0.

Investimentos chineses no Brasil, por exemplo, podem contribuir para dar escala a iniciativas já existentes no país na área de agropecuária de baixo carbono. Um acordo bilateral climático para comercialização de créditos de carbono, como sugere um estudo do Conselho Empresarial Brasil-China, poderia fazer com que emissões de CO₂ da China fossem compensadas em projetos no Brasil, que seriam viáveis com uma quantidade muito menor de emissões.

O diálogo mais estreito não apenas —mas também— com a China é fundamental nos foros internacionais, incluindo as COPs do clima, como a que começa agora no Egito, além de G20 e Brics.

Ainda, o diálogo com Pequim interessa diante de novas barreiras comerciais, como as que brotam na União Europeia. Se o Brasil é o alvo preferencial de uma das propostas —de roupagem ambiental, com potencial de prejudicar 78% das exportações do agro brasileiro para o bloco—, a China é o foco natural de outra iniciativa europeia que propõe uma taxa de carbono sobre importações. Comércio e clima certamente se relacionam, mas a arbitrariedade dessas novas barreiras preocupa.

Além disso, digitalização e sustentabilidade devem estar na base de uma nova política de competitividade para a indústria brasileira. Na relação com o país asiático, o desafio consiste em alavancar investimentos e tecnologias chinesas para ajudar a revigorar a atividade industrial.

Se, no comércio, as importações chinesas impõem um desafio evidente à indústria do Brasil (e do mundo), a ampliação da agenda —com ênfase em investimentos, tecnologia, sustentabilidade e infraestrutura— poderia gerar ganhos para o próprio setor industrial.

Não custa lembrar que, nos distantes idos de 1988, Brasil e China estabeleceram um programa conjunto de construção de satélites avançados de sensoriamento remoto, o CBERS. Ainda hoje, imagens geradas por esses satélites contribuem para o monitoramento de desmatamento e queimadas, o controle de recursos hídricos e de áreas agrícolas nos dois países.

Mesmo diante de um contexto internacional mais tensionado, não deveria ser impossível ampliar o escopo e a ambição de iniciativas conjuntas, em linha com uma nova visão de futuro para as relações Brasil-China e, a propósito, para a atuação do Brasil no mundo.

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