Tati Bernardi

Escritora e roteirista de cinema e televisão, autora de “Depois a Louca Sou Eu”.

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Tati Bernardi

O milagre de Neymar

Meu pai, que, cansado "das palhaçadas desse país", tinha resolvido torcer pra Alemanha, me ligou na sexta à noite inconsolável "quebraram o menino". Minha mãe, que acha que a Copa está comprada (legal que essa pessoa misteriosa que comprou a Copa adora uma prorrogação!), apareceu aqui em casa no domingo "cê viu a declaração dele que linda? Aqueles olhos verdes tão puros, cheios de lágrimas". Os dois vão torcer hoje, como loucos, pra seleção brasileira.

Meu namorado, que desde o primeiro jogo falava "tô mais preocupado com as eleições", me pediu agora "vamos ver o jogo tranquilos, tá? Não chama uma megagalera porque eu tô tenso". No Facebook, pude ver intelectuais céticos e publicitários irônicos virando péssimos poetas. Teve o que fez uma tentativa de aliteração "Ney mar, nem areia, nem morto, nem machucado, nem brinca, nem acredito...". Teve o que pluralizou "acordamos fraturados, mas nosso sonho não acabou! Hoje somos todos Neymar!" e teve o que caprichou na autoajuda sem medo de ser feliz "é nas adversidades que encontramos uma força gigante e vitoriosa e blá-blá-blá".

Comentaristas, obcecados com datas (o que eu acho chatérrimo), pararam de relembrar a cor da meia do meio-campo no dia 15 às 17h de 1978 e correram pra fazer locução de videozinhos emocionais. É brega, mas é melhor que comparar a velocidade do perdigoto do Messi com a aceleração do escarro do Maradona em 94.

Neymar não foi o melhor da Copa, não foi o artilheiro e, também estou muito triste, não joga hoje. Mas vencer o pessimismo e o cinismo do brasileiro já fez dele um mito e o grande herói deste Mundial. A fratura de Neymar botou ereta a fé de muita gente. Ver um menino caído no chão fez levantar até os marmanjos embotados. Putz, olha eu também tentando falar bonito.

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