Tati Bernardi

Escritora e roteirista de cinema e televisão, autora de “Depois a Louca Sou Eu”.

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Tati Bernardi

Mamãe Neura: Ressignificando a bracciola

Confesso que não poderia ficar fora da moda de ressignificar as coisas

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David Magila

Se você está grávida ou pariu recentemente, já deve ter ouvido a modinha com o verbo ressignificar. “Depois dá saudade da barriga.” “Com o tempo você dá um novo sentido para as dores do parto.” “Depois dá saudade de acordar na madrugada para amamentar 30 vezes.” “Com o tempo você dá um novo sentido para o sexo.” “Depois dá saudade dos chutes na costela.” “Com o tempo você dá um novo sentido para o amor.” E por aí vai.

Todos os perrengues da gestação e dos primeiros meses com o bebê serão ressignificados, e você sentirá enorme nostalgia. Todos os enjoos e vômitos e caganeiras e cólicas e faltas de ar e anemia serão fixados como quadros maravilhosos na parede da sua memória. Aquele momento em que você agarrou o braço da obstetriz e bradou: “Se não me anestesiarem AGORA eu vou quebrar tudo” vai virar um conto de fadas purpurinado na mais terna página da história.

Eu —quem me lê sabe bem disso— tenho uma preguiça enorme de todo esse papinho Vila Madalena. Até agora não senti nem um pingo de saudade de ter meu pulmão e meu fígado empurrados. Prefiro mil vezes ver o sorriso da minha filha a sentir azia a cada copo d’água. Ser mãe é muito mais legal que essa piração egoica com a barriga que acomete algumas gestantes. Se achou a sua lombar arriando mais legal do que ter um filho nos braços, você está é beeem louca.

Porém, preciso confessar que, apesar de cínica demais pra esse papinho “nossa, que delícia sentir contrações”, sou uma escrava da moda e, se a moda é ressignificar, eu não poderia ficar fora dela. Pois muito bem: ressignifiquei minha bracciola.

Bracciola é o apelido “carinhoso” que dei a meu tríceps braquial, vulgo músculo do tchau. Anos de ioga, pilates, drenagem linfática e até kickboxing (fui a quatro aulas) não serviram para afinar o meu braço de descendente de italianos. Eu não costumo fazer polenta, mas tenho braços de tia polenteira da Mooca.

Acontece que minha filha gosta de beliscar o molinho do meu braço enquanto mama e, por isso, agradeço todos os dias o meu fracasso atlético. Fico roxa e acho lindo. Não existe nada mais importante e gostoso no mundo.

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