Tati Bernardi

Escritora e roteirista de cinema e televisão, autora de “Depois a Louca Sou Eu”.

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Tati Bernardi

Mamãe Neura: Sua filha é boazinha?

Quando digo que tenho uma bebê, essa é uma das primeiras perguntas que me fazem

Quando digo que tenho uma bebê, uma das primeiras perguntas que me fazem é se ela é boazinha. Respondo que sim, obviamente. Aos cinco meses, nunca fez fofoca, falou mal ou riu pelas costas de ninguém. E olha que passo o dia todo grudada nela.

Quando as visitas falam besteiras, ela não revira os olhos. Quando um brinquedo de mil reais aparece em seu campo de visão, ela prefere declaradamente o papel colorido que o embrulha, coisa de dois reais. Sim, é muito boazinha.

Durante o jogo Brasil nas oitavas de final da Copa, ao ver que crianças mexicanas choravam na arquibancada do estádio, preferiu tirar uma soneca a comemorar o segundo gol. Na festinha de aniversário a que fomos no último sábado, ao notar que usava um vestido rococó muito parecido com o da aniversariante, achou por bem vazar a fralda inteira nele, me obrigando a vesti-la com a regata Torcida Baby do Flamengo que seu pai lhe comprou e estava esquecida como reserva no fundo da “babychila”. Se tem uma coisa que minha filha é, é boa gente.

Nessas pouco mais de 20 semanas de sua espetacular existência, nunca a vi dirigindo em alta velocidade, assaltando um banco, furando filas, portando armas, falando palavrões, sendo preconceituosa com outros bebês mais carecas que ela, pagando propina para não fazer a prova da renovação da CNH ou vendo vídeos impróprios para a sua idade. Percebi, orgulhosa, que minha nenê evita entrar em brigas idiotas no Facebook, postar fotos pouco humildes no Instagram e ingerir glúten. Sim, é uma boa pessoa.

Se ela notou que minha barriga está ainda mais flácida ou que meus peitos estão caídos, não falou nada. Tenho observado que ela prefere chupar os dedos a apontá-los. 

Custo a acreditar que as pessoas que perguntam se minha filha é boazinha querem saber a respeito de seu sono, fome e carência. Isso seria mais do que clichê, isso seria injusto. 

Crianças pequenas choram, berram, acordam, demandam, mamam, e “madrugada” para elas quer dizer “apenas mais uma hora qualquer em que preciso ser muito amada pelos meus pais”. Assuntar se dão trabalho é que não me parece uma pergunta boazinha.

David Magila
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