Tati Bernardi

Escritora e roteirista de cinema e televisão, autora de “Depois a Louca Sou Eu”.

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Tati Bernardi

Mamãe Neura: Tudo isso

Com o fim da licença-maternidade, chega a hora da famosa 'angústia de separação'

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David Magila

Acabou minha licença-maternidade e começou a famosa “angústia de separação”. O termo psicanalítico refere-se à fase em que o bebê entende que existe desassociado da figura da mãe. Eles não formam um mesmo corpo, e isso o amedronta, mas também o liberta para dar seus primeiros passos —ou engatinhadas— como sujeito. O bebê só vive, a priori, por causa da progenitora (e também dos cuidados de quem exerce a função materna), mas é sobretudo na ausência do outro que ele se constitui.

Minha filha parece bem tranquila longe de mim, assistida por uma infinidade de adultos apaixonados que se dividem para cuidar dela nas horas em que a mãe precisa trabalhar, dormir ou passar rapidinho um creme nas pernas.

Quem não anda exatamente plena e feliz é esta que vos escreve a coluna. Aumentei a terapia para duas vezes na semana e passo o dia com pensamentos bem leves e divertidos, tais quais: “Será que sou uma péssima mãe?”. 

No último sábado eu precisava muito de espaço e silêncio, mas a culpa é tanta que adoeci. Foi o único jeito que arrumei de me isolar umas horas na cama sem me achar uma vaca por estar longe (distância de um corredor) da minha filha.

“Mãe não é oxigênio.” Li essa frase em alguns livros cabeça sobre maternidade que me deram. Mas foi Winnicott, sempre ele, quem escreveu a sentença salvadora que a psicanalista e amiga (e não menos salvadora) Vera Iaconelli me transmitiu: mãe é mais do que presença física, é também todo o ambiente criado por ela.

Eu comprei este apartamento ensolarado pensando nela. Eu escolhi o melhor pai do mundo para ela. A luz com dimmer que se adequa perfeitamente aos seus horários, as plantas, as musiquinhas, os cobertores, 
o papel de parede com bichinhos, os ursinhos de fazer soneca, as frutas orgânicas, o funcionamento da casa. Meu amor pulsa em cada detalhe —e isso é brega, mas é verdade. 

Agora vou ali só um instantinho, cheia de culpa e angústia e medo e saudade. Vou para que um dia você também possa ter sua independência sem se culpar tanto (rompendo, finalmente, uma herança familiar de penitências, gerações que queriam mais do que embalar um filho, mas não bancaram). Vou para voltar ainda mais apaixonada… e, sobretudo, porque desejo.

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