Tati Bernardi

Escritora e roteirista de cinema e televisão, autora de “Depois a Louca Sou Eu”.

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Tati Bernardi

Comprei um shortinho de couro tamanho PP assim que me descobri grávida

É como se fosse uma bandeira fincada num planeta chamado 'já fui jovem supersexualizada e brega'

Acho bem estranho quem faz cabelo e maquiagem para o dia do parto. Acho muito bizarro quem faz ensaio grávida sexy com carinha de “cuidado que a mãe terra vai te pegar gostoso”. Acho meio vergonhinha-alheia quem gasta uma fortuna na “roupinha de saída da maternidade” como se um ser humaninho de dois ou três dias estivesse indo para a virada do ano no Cafe de La Musique. Acho curioso as mães que comemoram cada “mesversário” do bebê

Não dei lembrancinha na maternidade, porque não deixei ninguém ir lá encher meu saco e muito menos o saquinho do meu neném. É muito oba-oba, muita festa para um momento introspectivo, delicado e complexo.

Dito isso, falemos agora um pouco mal de mim. Eu preciso confessar que comprei um shortinho de couro tamanho PP assim que me descobri grávida. Demorei cinco meses para começar o enxoval da minha filha, mas na mesma semana adquiri itens de gosto duvidoso, tais quais um salto alto vermelho de cetim e uma calça roxa de camurça. Itens que não usei, por motivos óbvios, durante os meses de inchaço, desequilíbrio e alargamento de quadril, e que seguirei não usando agora, por motivos de nem tenho aonde ir com eles (nem quero ir, nem quero usá-los… Enfim).

David Magila

Mas todos os dias encaro o shortinho de couro no armário, como se fosse uma bandeira fincada num planeta distante chamado “já fui uma jovem supersexualizada e brega”. É preciso manter essa bandeira ali, ainda que a meio mastro. 

Um dia voltarei a malhar os glúteos temporariamente arriados e os antebraços momentaneamente gelatinosos. Um dia terei de novo uma barriga despelancada, seios curiosamente empinados e um rosto sem sombras roxas do cansaço extremo. Um dia tornarei a sensualizar em jantares e a desfilar meu “caminhar da vitória estética” ao adentrar em qualquer recinto festivo. 

O shortinho de couro é uma homenagem saudosa ao que fui e também uma lembrança viva do que voltarei a ser. Talvez eu jamais vista meu amuleto, mas dá uma alegria saber que ele está lá.

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