Tati Bernardi

Escritora e roteirista de cinema e televisão, autora de “Depois a Louca Sou Eu”.

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Tati Bernardi

Um pequeno passo para... a mulher

A primeira crise de ansiedade pós-gravidez

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No feriado do dia 15 de novembro, minha filha deu seus primeiros passinhos. Nesse mesmo dia, fui ao 
cinema depois de muitos meses sem conseguir tempo ou fôlego para tal e assisti ao filme “O Primeiro Homem”, sobre a chegada de Neil Armstrong à Lua.

Também nessa última quinta, minha mãe tinha me ligado dizendo que sua artrite reumatoide estava piorando e ela enfrentava dificuldades para andar.

Foi nessa noite, ainda, que tive uma das minhas mais extremas e já esquecidas crises de ansiedade. Passei a gravidez inteira e os primeiros dez meses da minha filha sem pânico (doença que eu travava antes de engravidar). Eu estava no meio do filme quando senti o corpo inteiro tremer, o peito arder, a onda gélida me percorrer. Neil Armstrong chegava triste e corajoso à Lua e eu, justamente por saber ser tão feliz, sentia um medo inenarrável.

Ilustração de David Magila para a coluna Mamãe Neura, de Tati Bernardi, para a revista sãopaulo
David Magila

Até então, as quinas dos móveis, as sujeiras do chão, o tampo das mesas, nada disso me fazia perder o sono. Até então, as esquinas das ruas, as calçadas imundas, as janelas sem rede protetora, nada disso me disparava o coração. A vida seguia tranquila com minha filha protegida pelos meus braços e eu protegida pelos braços da minha mãe. 

Eu era uma mulher entre duas mulheres, e talvez essa seja uma das sensações mais prazerosas e poderosas que se possa experimentar. O x-tudo do amor.

Acontece que, naquela quinta, uma delas começou a dar sinais de que um dia se afastaria de mim para ganhar o mundo. E a outra, sinais de que um dia se afastaria de mim para se despedir do mundo.

No banheiro molhei a nuca, dei alguns murros no peito, lembrei que não posso tomar Rivotril porque ainda amamento. Chorei um pouco e depois muito. No espelho me achei muito velha e muito jovem. Com vontade de fazer tudo pela minha filha e de não fazer nada por alguns segundos e apenas deitar no colo da minha mãe. 

Aos poucos fui entendendo que meu velho conhecido mal-estar, que a vida toda chamei de pânico e infantilidade, era também uma tentativa de aplacar, no corpo, emoções tão intensas e ainda parcamente nomeadas. Eu era forte, madura, filha e mãe.

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