Tati Bernardi

Escritora e roteirista de cinema e televisão, autora de “Depois a Louca Sou Eu”.

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Tati Bernardi
Descrição de chapéu É Coisa Fina

Com leveza, 'Vamos Comprar um Poeta' retrata mundo materialista

Livro de Afonso Cruz inspirou musical infantojuvenil homônimo

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Vamos Comprar um Poeta

  • Preço R$ 39,90 (96 páginas)
  • Autor Afonso Cruz
  • Editora Dublinense

“Gira” é o nome de uma coleção da editora Dublinense que publica ótimos escritores portugueses e tem curadoria de Reginaldo Pujol Filho. Dentre os autores selecionados, o escritor (músico, ilustrador, cineasta e dramaturgo) Afonso Cruz se destaca pela ironia afiada, pela sensibilidade criativa e por ser um grande defensor da arte.

Tomei conhecimento deste livro “Vamos Comprar um Poeta” no ano passado, quando um musical infantojuvenil homônimo ganhou o prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) ao adaptá-lo. E, ao ler a sinopse, fiquei fascinada pelo mote.

A história se passa em um futuro —não sei se consigo afirmar que distópico— no qual pessoas com nomes como “NM 792” ou “BB9,2” (“que nome pomposo, com vírgula e uma dízima ridícula”) vivem de forma extremamente materialista e racional (na televisão, só assistem a programas sobre finanças), e as famílias têm artistas em vez de animais de estimação: “o pai apontou para o poeta que fungava e não tinha patrocínio nas roupas e perguntou se aquele exemplar era subversivo, que é a característica mais temida nos poetas, é o equivalente à agressividade dos cães”.

Atores em cena na peça infantil Vamos Comprar um Poeta
Cena da peça 'Vamos Comprar um Poeta', adaptação do livro homônimo e encenada em 2019 - Renato Mangolin/Divulgação

Os objetos e os espaços são patrocinados por marcas: “o meu irmão desceu as escadas que tinham patrocínio de uma empresa de telecomunicações”, e tudo (até mesmo um beijo!) pode ser contabilizado e milimetricamente assegurado por números, porcentagens e estatísticas: “demos trezentos e quarenta e dois passos desde a loja até em casa”.

Apesar de o poeta ser reconhecidamente um “inutilista” e acusado de mentiroso pela própria garota que o quis de presente (“peço desculpa, mas um sapato não é uma luva apaixonada pelas mãos erradas!”), ele começa a revolucionar a casa, sobretudo quando decide que em cima da sua cama tem uma janela para o mar.

São 96 páginas de leitura leve e muitas vezes ingênua (daí ser adaptado para adolescentes no teatro), mas é o tipo de texto delicioso, que gruda na gente por dias, talvez semanas.

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