Tati Bernardi

Escritora e roteirista de cinema e televisão, autora de “Depois a Louca Sou Eu”.

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Tati Bernardi
Descrição de chapéu É Coisa Fina

Novo livro da cantora Letrux convida leitores a mergulhar em seu diário

'Tudo que Já Nadei' é leitura delicinha para quando achamos que não queremos pensar muito e acabamos nas profundezas de um oceano particular

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Tudo que Já Nadei

  • Preço R$ 34,90
  • Autoria Letrux
  • Editora Planeta (160 págs.)

O grande lance desse livro, da cantora e atriz Letícia Novaes, é pensar que você encontrou um caderno de anotações. Pensamentos que a autora registrou antes de dormir (“tomar caldo era se perceber viva”); delicadezas (quando criança, tinha medo de perder a família na praia e isso ser “pra sempre”); histórias que ela não podia nem queria esquecer (como a do homem que perde sua aliança no mar e então a esposa joga a dela ali também: “foi das cerimônias de casamento mais lindas que já presenciei na vida”); e dores que ela precisava colocar pra fora (“o que foi mesmo que ela disse naquele dia antes de eu dar um tapa na cara dela?”). Eu li o tempo todo vendo a tinta azul, alguns desenhos, papel manchado de chocolate.

Não. O grande barato é pensar que você está deitado em uma rede e a Letrux, que escreve soltinho como se fosse óbvio que ela é sua melhor amiga, começa a te contar sobre o cara que, depois de muito tempo tentando ser resgatado pelo namorado e alguns amigos, disse “ah, morri”, antes de ser levado pelo mar. E como isso é triste, mas essa frase é engraçada. E como dá pra tentar tirar humor de tudo e, apesar da vontade de chorar e pedir desculpas, é um jeito de sobreviver.

Ou talvez o leitor esteja deitado na areia e as frases venham embaladas pelo som do mar: “O barco é um troço sólido em cima de um troço líquido, não combina com meu metabolismo”. Dá quase pra sentir o cheiro de maresia nas páginas: “O que você tem em peixes? A mãe”. Em certos momentos o texto fica meio sem sentido, igual sol forte na nossa cabeça. Em outros parece seis da tarde, já vem uma brisa intensa e você consegue firmar o pescoço pra terminar um poema: “mágoa é má água dentro do corpo”.

Letrux, que fica horrorizada com o horror, que nunca tentou consertar a natureza (“Se essa folha caísse mais pra lá?”), que tem aflição de ver os outros vomitando, que pode ficar paralisada de tédio ou de tesão, que curte bem confortável, de seu sofá ver a galera se esfolando no “Largados e Pelados”, acha que uma pessoa que não pode ler seus textos não vai poder amá-la direito.

Dividido em três partes “Ressaca” para textões, “Quebra-mar” para poemas e “Marolinhas” para aforismos, “Tudo que Já Nadei” é leitura delicinha e rápida para quando a gente acha que não quer pensar muito e daí “tchibum”: você foi enganado e está lá nas profundezas de um oceano particular o da autora ou o seu.

"Tudo que Já Nadei", de Letrux
'Tudo que Já Nadei', de Letrux - Reprodução

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