Tati Bernardi

Escritora e roteirista de cinema e televisão, autora de “Depois a Louca Sou Eu”.

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Tati Bernardi
Descrição de chapéu maternidade

As mães precisam de ciência e diversão

E a ciência precisa de mães. Descansadas, se possível

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Esta coluna foi escrita para a campanha #ciêncianaseleições, que celebra o Mês da Ciência. Em julho, colunistas cedem seus espaços para refletir sobre o papel da ciência na reconstrução do Brasil. Quem escreve é Rossana Soletti, professora, pesquisadora e divulgadora de ciência maternoinfantil.

Nos saudosos anos em que o Brasil ainda tinha investimentos aceitáveis em pesquisa científica, eu era uma jovem pós-doutoranda sequiosa de que a informação produzida nos laboratórios atravessasse as barreiras da universidade. Falava-se que os cientistas eram esquisitos e introvertidos, sempre isolados em suas torres de marfim. Hoje essa metáfora é menos usada, em parte porque vários pesquisadores já ultrapassaram os muros acadêmicos, mas talvez porque, se houvesse torres de marfim nas universidades públicas, elas teriam desmoronado por falta de verbas para manutenção.

Foi nessa época que eu e três colegas fizemos um blog para divulgar descobertas científicas: escrevíamos sobre os mais variados temas e fazíamos camisetas divertidas. Não tínhamos muito tempo, pois a vida de quem trabalha com ciência é corrida, com experimentos a serem feitos, artigos a serem lidos e projetos a serem escritos. Como se já não bastasse, planejei engravidar. E então eu tive uma criança que não parava de chorar. Eu precisava lidar com milhares de coisas novas relacionadas à maternidade, e não conseguia dar conta de responder os pareceres e atualizar os relatórios.

Mãe e filha passeiam de mãos dadas na praia
Pixabay

Minha memória tem alguns bloqueios dessa época devido à privação de sono, mas lembro que uma hora as coisas começaram a se acalmar um pouco, e aí pude escrever de novo pro blog. Só que, por pura necessidade, eu havia virado uma pessoa monotemática, que só lia, pensava e falava de maternidade.

Eram posts a respeito da ingestão de cafeína pela mãe que amamenta, da falta de evidências científicas sobre os benefícios do colar de âmbar pros bebês, e por aí. Enfim, uma verdadeira chatice para quem não está vivendo o mesmo momento, mas útil para minhas três leitoras que tinham filhos. Afinal, tudo que diz respeito à maternidade envolve decisões, e é melhor basear nossas condutas em ciência do que em pitacos, conselhos de uma tia ou correntes de WhatsApp.

Logo depois engravidei de novo (não me perguntem por quê) e tentei sobreviver a esse ciclo de gestação de risco, privação de sono, bebê chorando, muito trabalho, demandas da vida acadêmica e mil descobertas em relação à ciência da maternidade. E foi escrevendo sobre a ciência da gestação e vários tópicos da maternidade que descobri como é importante ler e discutir sobre isso, mas é também maçante, cansativo, mais uma sobrecarga imputada às mulheres.

As mães estão cansadas (e isso piorou com a pandemia). Sim, a gente precisa ler as dezenas de artigos sobre a efetividade de cada vacina pediátrica contra a Covid-19 e entender se devemos mesmo usar utensílios sem BPA para as crianças, mas precisamos também nos divertir. A mãe brasileira não tem um minuto de paz e ela merece fazer coisas legais, ter ócio não criativo e rir de memes. A ciência deve se encaixar nisso tudo de forma leve, entendendo que a mãe precisa saber mais sobre a hepatite misteriosa que está atacando crianças, mas tudo o que ela queria era nunca mais ter que ler sobre novas perebas infantis.

Maternar é magnífico, científico e político, mas cansa. Deem ciência, memes, políticas públicas e noites de sono pra nós.

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