Meu caro irmão,
Você me pediu para falar sobre a Cúpula do Clima aqui na coluna.
Decidi escrever essa carta para todos aqueles que, como você, defendem a Amazônia, mas ainda comem bife.
A atuação de Bolsonaro constrangeu todos nós a assistir a uma peça de teatro muito ruim. A quarta parede desmoronou na primeira fala, e, apesar do texto decorado e até da gravata verde, vimos o ator se esforçando para encarnar um personagem que ele nunca foi.
Ainda não vou falar do bife no seu prato, mas pode encostar o garfo porque vai ficar difícil de engolir. Não conseguimos acreditar na história que nos foi narrada: as palavras pareciam não caber na boca do presidente sem partido. Assistimos ao epílogo sem o menor registro de diálogos e ações em atos anteriores que pudessem construir a trajetória do herói ali forjado.
Bolsonaro tentou ser bonitinho, mas foi, no máximo, ordinário. É um forte candidato ao prêmio Framboesa de Ouro de 2021. O texto que representou na Cúpula do Clima, escrito pelo mesmo dramaturgo de “Álbum de Boiada”, é totalmente inverossímil.
Joe Biden conseguiu realizar aquilo que você e eu tantas vezes tivemos vontade de fazer no meio de algumas peças às quais assistimos juntos: levantou e saiu.
É uma pena, entretanto, que tenhamos que permanecer sentados diante da farsa: como acreditar no compromisso do nosso presidente com a preservação da Amazônia, se a gestão das florestas públicas foi delegada ao Ministério da Agricultura desde o prólogo do seu mandato?
Ou ainda, que o desmatamento ambiental será eliminado até 2030, se em março tivemos a pior taxa de desmatamento na Amazônia nos últimos dez anos?
Você se sente enganado, respira fundo e corta o seu bife. Eu vejo o prazer que você sente nisso, e me lembro de nós dois, crianças, comendo churrasco com as mãos e enxugando o sangue no canto da boca. Eu também gostava de comer carne, assim como tantas outras pessoas que hoje são veganas.
Nós não tiramos o bife do prato porque deixamos de gostar do sabor. E em pleno 2021, já não somos veganos apenas pelos animais.
Lembrei-me agora de uma célebre frase do presidente “só aos veganos que comem só vegetais é importante a questão ambiental'' (sic).
Chega mesmo a parecer que apenas para nós, veganas e veganos, a questão ambiental é relevante. Afinal, como pode ser possível se importar com o meio ambiente e comer carne?
Pelo menos 80% do desmatamento na Amazônia acontece em decorrência de atividades agropecuárias, por isso, meu irmão, não adianta comer bife e depois chorar pela floresta derramada.
De todas as emissões de gases de efeito estufa no Brasil, 72 % são geradas por essas mesmas atividades, o que me faz pensar que todos nós deveríamos olhar com menos preconceitos e mais curiosidade para quem escolheu comer “só vegetais”. Tal escolha pode ser, afinal, uma das mais eficientes para de fato neutralizar as emissões de carbono até 2050.
Não vou me alongar mais, senão seu bife vai esfriar. Espero que você esteja colocando em prática as dicas para Comer Melhor em Casa que tenho compartilhado aqui. Até agora foram 4 dicas, que chamo de hacks porque são atalhos super objetivos. Mas a de hoje será mais afetiva, e dedicada a você, que nunca foi lá muito fã de vegetais.
Um abraço da sua irmã, com os melhores desejos de que você siga o exemplo da sua mãe que, apesar de todas as dificuldades, conseguiu virar vegana aos 62 anos de idade,
Luisa
Hack 5 de 10: Cozinhe aquilo que você sempre comeu, em versões 100% vegetais.
Você não precisa comer bacias de salada para tirar a Amazônia do seu prato. Preparar refeições baseadas em vegetais não quer dizer necessariamente avistar no prato uma cenoura sorrindo para você.
Que tal começar pelos pratos que você mais ama comer?
Hambúrguer, estrogonofe e lasanha são também refeições de quem “só come vegetais”.
Deixo vocês com uma receita de almôndegas, adaptadas da versão com carne saborosa e suculenta que minha avó fazia.
ESPAGUETE COM ALMÔNDEGAS
Serve 2 pessoas
Ingredientes
- 200 g de espaguete.
- 500 ml de molho de tomate.
- 2 xícaras de lentilha cozida e escorrida, sem o caldo.
- 2 fatias de pão torrado.
- 2 colheres de sopa de farinha de aveia.
- 1 colher de sopa de polvilho doce.
- 1 colher de chá de cominho em pó.
- 1 colher de chá de páprica defumada em pó.
- 2 colheres de chá de tomilho fresco, ou 1 colher de chá de tomilho seco.
- ½ colher de chá de cúrcuma em pó.
- 1 cebola média, em cubinhos.
- 2 dentes de alho picadinhos.
- 2 colheres de sopa de azeite + o quanto baste para a fritura rasa.
- ½ colher de chá de sal.
Passo a passo
- Leve a cebola para refogar com o azeite, sal e temperos, até dourar. Acrescente o alho e refogue por mais dois minutos.
- Acrescente a lentilha, refogue por mais dois minutos e desligue o fogo.
- Separe metade da quantidade da lentilha refogada e reserve. Triture a outra metade com um mixer de mão, na própria panela, ou no processador de alimentos, até obter uma pasta.
- Na panela desligada, junte a lentilha reservada e a triturada em pasta. Acrescente a farinha de aveia e o polvilho doce e misture bem até formar uma massa homogênea.
- Cozinhe a massa de acordo com as instruções do pacote e aqueça o molho de tomate.
- Forme bolinhas com as mãos, apertando bem a massa antes de enrolar para que as almôndegas fiquem firmes. Leve uma frigideira com bastante azeite ao fogo médio.
- Assim que aquecer, acrescente as almôndegas e frite as almôndegas - não é necessário fritar por imersão. Vire as bolinhas de tempos em tempos até que todos os lados fiquem douradinhos.
- Transfira as almôndegas para a panela do molho de tomate. Deixe cozinhar por cinco minutos em fogo médio e sirva sobre o espaguete.
Dicas
- As almôndegas podem ser assadas no forno a 200 graus por 15 minutos ao invés de serem fritas. É uma boa opção para o dia a dia, e a fritura rasa pode ficar para as ocasiões mais especiais.
- Congele para ter sempre! As almôndegas podem ser congeladas cruas ou assadas/fritas por 2 meses.
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