Thiago Amparo

Advogado, é professor de direito internacional e direitos humanos na FGV Direito SP. Doutor pela Central European University (Budapeste), escreve sobre direitos e discriminação.

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Descrição de chapéu Folhajus congresso nacional

Bolsonaro, o presidente do centrão vai bem, obrigado

Ele avança sua boiada com a porteira aberta deixada pelo Legislativo e STF

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Análise política não é pensamento positivo; o analista coloca o ouvido perto do chão para escutar o som da boiada que está a caminho, mesmo que distante, e, veja, nem distante a boiada está. Análise política é como o canário que mineradores levam consigo para dentro da mina: a fragilidade do pulmão do canário é sua fortaleza; esperneia alertando sobre os perigos vindouros.

Bolsonaro vai bem, obrigado. Autocratas precisam se reeleger para matar de vez a democracia, nos ensinam Ortega e Orbán. A queda da popularidade de Bolsonaro é o maior triunfo na mão dos democratas de oposição, os quais, por outro lado, pouco parecem se unir para enfrentá-lo, o que fortalece Bolsonaro. Chapa Lula-Alckmin ajudaria para sinalizar que se trata de uma eleição sobre Bolsonaro, não sobre os demais e suas picuinhas históricas.

Bolsonaro avança sua boiada com a porteira aberta deixada pelo Legislativo e STF. Em uma semana, o STF esmaga sua própria jurisprudência sobre foro privilegiado de 2018: criou uma exceção casuística beneficiando, ao cabo, o filho do presidente. O que era para ser uma corte previsível diante do caos, torna-se corte a ignorar a si mesma em nome do caos.

Legislativo passa a boiada, aprovando sem oposição coordenada o futuro ministro do STF que mandou a polícia calar críticos ao governo (vide requisições de inquérito policial com base na Lei de Segurança Nacional); que assistiu ao presidente defender a liberdade de usar remédio sem eficácia para Covid e cuja AGU defendeu ser ok o Estado comemorar o golpe militar em nota oficial. E, ainda por cima, quer passar a lei antiterrorismo para calar a sociedade civil.

As frases belas, mas vazias, de André Mendonça a favor da democracia em sua sabatina, de um lado destoam de sua prática jurídica no governo e, de outro, soam como um canto de sereias a encantar um Senado pouco afeito a sabatinar de fato; um canto agudo o bastante para abafar o som da boiada passando. Bolsonaro, o presidente do centrão vai bem, obrigado.

André Mendonça durante sabatina na CCJ do Senado - Pedro Ladeira/Folhapress

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