Thiago Amparo

Advogado, é professor de direito internacional e direitos humanos na FGV Direito SP. Doutor pela Central European University (Budapeste), escreve sobre direitos e discriminação.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Thiago Amparo
Descrição de chapéu Folhajus

Escolas que assediam alunas

Escolas não são espaços seguros, em especial para meninas e LGBTs

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

"Já estive em ti, em pensamento, várias vezes. Você é a beleza e a pureza juntas". Essa é uma mensagem atribuída a um professor da escola da Aeronáutica na zona norte do Rio a uma aluna menor de idade, conforme revelou o G1 no último dia 10. Desde então, mais quatro ex-alunas do colégio denunciaram professores.

Não é de hoje que escolas não são espaços seguros, em especial para meninas e LGBTs. Deveriam ser. Em parte, a ausência de debate sobre gênero e sexualidade, por preconceito, cria um ambiente onde assédios contra estudantes são tolerados e espaços de denúncia inexistem.

No Brasil, há um esforço para silenciar quem busque discutir o tema em sala de aula. É a conclusão do relatório inédito, a ser publicado nesta quinta (12), pela Human Rights Watch. Intitulado "Tenho medo, esse era o objetivo deles", o relatório detalha esforços legislativos e políticos para proibir que escolas debatam gênero e sexualidade no Brasil.

O estudo analisa 217 projetos de lei (PLs) apresentados e leis aprovadas entre 2014 e 2022 que, com diferentes formulações, inibem ou proíbem o ensino ou mesmo o debate sobre temas de gênero e sexualidade em escolas municipais e estaduais. Decisões do STF já derrubaram oito dessas leis, mas enxugam o gelo dada a rápida profusão de PLs.

Professores que tentam trazer o tema para a sala de aula, de forma séria e apropriada à idade dos estudantes, são perseguidos —32 professores de escolas públicas de oito estados do Brasil entrevistados pela HRW relataram ter medo. Se debatêssemos gênero e sexualidade em sala, assédios sexuais dentro e fora da sala de aula seriam evitados e, caso ocorressem, punidos.

Chorei ao ver o novo seriado "Heartstopper" (Netflix) —sobre o amor entre dois adolescentes lgbts— ao lembrar que eu sentia medo e solidão toda vez que eu, gay, entrava em minha escola. As escolas que silenciam o debate sobre gênero e sexualidade são, invariavelmente, as mesmas escolas que assediam. Outra educação pode e deve ser possível.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.