Tom Farias

Jornalista e escritor, é autor de "Carolina, uma Biografia" e do romance "Toda Fúria"

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Tom Farias

De JK a Bolsonaro, listar presidentes do Brasil é modo de rever a história

Minha biografia será escrita sob o choro e o desengano a depender dos governantes que passaram por minha vida

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Alguém já parou para pensar nos presidentes da República que passaram por suas vidas? Se ainda não o fizeram, eis um ótimo exercício para rever a história do país e a sua própria história.

A ideia de um Brasil republicano sempre esteve presente no seio da nação brasileira, desde os tempos do Império. A República chegou em 1889, no contragolpe militar nas barbas do imperador dom Pedro 2º, e jamais saiu de nossas vidas. De 1960 para cá, 18 presidentes da República cruzaram a minha pacata existência.

Eu nasci no final do governo de Juscelino Kubitschek de Oliveira, o JK. O mineiro, cujo lema de campanha era "50 anos em cinco", teve seu maior feito na mudança da capital do país do Rio de Janeiro para o planalto central, atual Brasília.

Sucedeu-lhe Jânio Quadros, que passou à história como o candidato da "vassourinha", que gerou um dos mais populares jingles de campanhas eleitorais brasileiras, e o tornou bem popular. Ele se elegeu na esteira do combate à corrupção —velho tema—, mas renunciou, estranhamente, no dia 25 de agosto de 1961, alegando pressões externas, quase sete meses após tomar posse, achando que voltaria ao governo nos braços do povo, o que, obviamente, não aconteceu.

Jânio Quadros segura vassoura em evento na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, em abril de 1953 - ReproduÁão

Já João Belchior Marques Goulart, ou João Goulart, vulgo Jango, foi primeiro vice de JK, até chegar a Jânio Quadros, de quem também foi vice. Como presidente, teve um mandato turbulento, mas leal aos trabalhadores e aos militares de baixa patente, como os sargentos e tenentes. Na primeira vice-presidência, conquistada por eleição direta, teve mais voto do que o presidente eleito: JK teve 3 milhões contra os 3,6 milhões conquistados no colégio eleitoral. Ao ser cassado, em abril de 1964, pelos militares, foi substituído por Ranieri Mazzilli, então presidente da Câmara dos Deputados, por 13 dias, mesmo período que já havia substituído o antecessor de Jango no poder.

Veio então a tal ditadura militar, que reinou durante amargos 21 anos. O Brasil teve dez presidentes oriundos das Forças Armadas, apenas três eleitos pelo voto popular: Hermes da Fonseca em 1910, Eurico Gaspar Dutra em 1946 e Bolsonaro em 2018.

No período ditatorial, foram presidentes: Castelo Branco (1964-1967), Costa e Silva (1967-1969), Médici (1969-1974), Ernesto Geisel (1974-1979) e João Figueiredo (1970-1985). Os outros militares não eleitos foram Deodoro da Fonseca (1889-1891) e Floriano Peixoto (1891-1894), conhecido como pacificador da República, mas com mão de ferro.

Sucedeu a todos o maranhense José Sarney, em 1985, vice de Tancredo Neves, que morreu antes de tomar posse. Sarney estabeleceu uma política de congelamento de preços, a criação dos planos Cruzado 1 e Cruzado 2 e Bresser e Verão. Apesar disso, deixou como legado a convocação da Assembleia Constituinte, que redigiu a nova Constituição, promulgada pelo deputado Ulisses Guimarães, em 1988, que enterrou a de 1967, proclamada pelos militares. Mas também está na sua biografia o famigerado episódio, passado no Rio de Janeiro, em 1987, mas conhecido como "Picaretaço do Sarney", quando manifestantes, em protesto contra a sua presença no estado, foram perseguidos e presos sob a salvaguarda da Lei de Segurança Nacional.

Após Sarney, entra o alagoano Fernando Collor de Mello, de triste memória em toda a vida pública, sobretudo depois da denúncia do irmão Pedro Collor de Mello, a partir do seu envolvimento com o tesoureiro Paulo César Farias. A desastrada gestão do "caçador de marajás" levou ao seu impeachment, numa campanha orquestrada pelos chamados "caras pintadas", da UNE.

Aí entra em cena o seu vice, o mineiro Itamar Franco, que parece que chegou à presidência para abrir caminho para a ascensão de Fernando Henrique Cardoso, o FHC. Foi ele, seu ministro das Relações Exteriores e da Fazenda, que criou o Plano Real e, afinal, estabilizou a economia.

Chegamos então ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que vai de 2003 a 2011. Talvez o período, seguido de FHC, de menor turbulência e grande estabilidade da economia brasileira.

Com seus dois mandatos consecutivos, o governo gerou empregos, renda popular e negociou a dívida externa do país, passando de histórico devedor a credor do FMI, Fundo Monetário Internacional, a ponto de o presidente americano, Barack Obama, chamar Lula de "o cara", destacando-o entre os presidentes de outras grandes nações.

Seguiu-se a ele a presidente Dilma Rousseff, única mulher a governar o Brasil republicano, antes comandando pela imperatriz Leopoldina em 1826 e a Princesa Isabel (1871-1872, 1876-1877 e 1887-1888), ambas na época do Império.

Passou pelo primeiro mandato com poucas turbulências, mas não concluiu o segundo: foi tirada do Planalto, com baixa popularidade, seguida de manobra do Congresso, e foi sucedida pelo vice Michel Temer, cuja gestão foi marcada pela insígnia de "golpista" e por manifestações de "fora, Temer".

Por último, a eleição de Jair Bolsonaro, ex-militar, ex-deputado federal, mas sem qualquer lei de interesse do país. Certamente, o presidente mais impopular da história de toda a era republicana, pelos múltiplos negacionismos, em especial à ciência e à vacinação da população, que amarga uma das mais profundas crises, no âmbito da economia, da saúde, da educação, da cultura, passando pela gestão da coisa pública.

Esses são os presidentes que passaram pela minha vida, desde a mais tenra idade. Quais são os seus? Certamente, a minha biografia está amarguradamente sob a escrita do choro e do desengano.

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