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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Formações táticas do passado explicam o 4-2-4 idealizado por Carille

Na vida e no futebol, as coisas vão e voltam, com nomes diferentes e com outros comportamentos

O técnico Fábio Carille coloca a mão em frente à boca durante um treino do Corinthians
O técnico Fábio Carille durante um treinamento do Corinthians - Daniel Augusto Jr./Ag. Corinthians/Divulgação

Contra o Santos, o Corinthians jogou, mais uma vez, no 4-4-2, com duas linhas de quatro e dois meias ofensivos, sem centroavante. Não foi no 4-2-4, dito por Carille. Nessa formação, apenas dois jogadores do meio-campo participam da marcação. O Corinthians marcou com quatro (dois volantes e um jogador de cada lado).

Muitas pessoas que passam a ver futebol não querem apenas torcer. Querem também entender. Assim, fica mais prazeroso. Há, no Brasil, um desinteresse de detalhar e discutir a maneira de jogar. Isso começa pelas pranchetas mostradas nas TVs, antes das partidas, que, com frequência, são diferentes da dos técnicos.

Atuar sem centroavante não é original. Não confundir com jogar sem um típico centroavante. Nos anos 1960, Evaldo era o centroavante do Cruzeiro. Aí, surgiu um excepcional volante (Zé Carlos). Para arrumar um lugar para ele, Evaldo, o menos famoso, foi barrado, e o time passou a jogar com dois volantes (Piazza e Zé Carlos), dois meias ofensivos (eu e Dirceu Lopes) e dois pontas (Hilton Oliveira e Natal), sem centroavante. A equipe piorou, pois Evaldo facilitava para todos.

Na Copa de 1970, Zagallo, após experimentar os típicos centroavantes Dario e Roberto, me perguntou, perto da estreia, se daria para atuar adiantado, sem voltar tanto, como fazia no Cruzeiro e como tinha jogado nas eliminatórias. Respondi que não haveria problema, que jogaria como Evaldo.

O 4-2-4, inventado pelo técnico Martim Francisco, campeão mineiro pelo Villa Nova, em 1951, surgiu do WM. Os times jogavam com três zagueiros, dois médios (volantes), dois meias ofensivos e três atacantes. Para formar o 4-2-4, um dos médios recuou para fazer dupla com o zagueiro central e passou a ser chamado, como até hoje, de quarto zagueiro. Um dos meias recuou para ser o meia armador, ao lado do volante, e o outro virou ponta de lança, formando dupla com o centroavante, além dos dois pontas.

Nas Copas de 1958, 1962 e 1970, houve uma variação no 4-2-4, com o recuo do ponta esquerda (Zagallo, em 1958 e 1962, e Rivellino, em 1970). Era o 4-3-3 torto. Muitos times brasileiros passaram a jogar no 4-3-3, porém, pelo meio, com três no meio-campo, dois jogadores abertos e um centroavante, como fazem hoje muitas das grandes equipes.

Na Copa de 1966, os ingleses, talvez inspirados nas seleções de 1958 e de 1962, recuaram os dois pontas, formando uma linha de quatro no meio (dois volantes e dois meias). Nascia o 4-4-2, ainda bastante atual.

Desde a Copa de 1966, os europeus sempre atuaram com dois jogadores abertos pelos lados, independentemente do desenho tático. Já no Brasil, durante décadas, quem avançava pelas pontas eram somente os laterais, e os técnicos encheram os times de volantes, para fazer a cobertura. Apenas recentemente, as equipes brasileiras passaram a atuar com jogadores abertos pelos lados, formando duplas com os laterais.

As coisas vão e voltam. Muito mais importante que os sistemas táticos foram as transformações que ocorreram no futebol, principalmente, depois da Copa de 2002. Os times passaram a jogar, progressivamente, com mais velocidade e intensidade e com muitos jogadores marcando, atacando e exercendo mais de uma função. Nada disso diminuiu a importância do talento individual. São os craques que iluminam o espetáculo, amparados por um bom jogo coletivo.

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