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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Descrição de chapéu

Futebol brasileiro é um misto de pouca qualidade técnica com oba-oba

Técnicos de Palmeiras e Corinthians deveriam ficar com vergonha do clássico de sábado (31)

O futebol que se joga no Brasil é um festival de carências e exageros. É tudo ou nada. A demissão de vários profissionais do Flamengo foi uma demonstração de prepotência e desprezo ao Botafogo, como se o Flamengo tivesse um timaço, que nunca poderia perder para o rival.

A eficiente administração financeira do Flamengo ainda não chegou aos gramados. Dirigentes e treinadores falam bastante em planejamento, preparação científica, mas, com frequência, agem de acordo com a emoção para agradar e diminuir as críticas da imprensa, dos torcedores e das redes sociais.

Além disso, o Flamengo, como acontece com todos os clubes brasileiros, contratou muitos bons jogadores, como se fossem craques. Parte da imprensa segue o oba-oba. O torcedor cria uma expectativa muito acima da realidade, se decepciona e ainda chama os atletas de preguiçosos, com o apoio da turma que era a do oba-oba.

É preciso reconhecer que existem muitos técnicos jovens, estudiosos, trabalhadores, educados, que falam bem, obsessivos em fazer cada vez melhor, sem estrelismo e sem pose de sábios. Eles precisam ser mais valorizados, desde que não sejam tratados como gênios nas vitórias e como burros nas derrotas.

Os exageros estão em toda parte. O Palmeiras, que era criticado com razão por adotar uma tática pouco vibrante de recuar e assistir ao adversário jogar, melhorou quando passou a pressionar em todo o campo. No sábado, o Palmeiras passou da marcação por pressão para o pontapé e, junto com o Corinthians, na mesma proporção, ultrapassou todos os limites. O jogo teve duas expulsões (deveriam ser mais), 51 faltas e dez cartões amarelos, além da pancadaria. Um horror. Isso não é futebol. Jogadores e técnicos deveriam ficar com vergonha da partida.

E ainda escutei, após o jogo, que clássico decisivo é assim mesmo e que o jogo foi intenso. Alguém deve ter dito que é o futebol raiz.

Ainda bem que, em outras decisões estaduais, os times tentaram jogar futebol. O Atlético-MG construiu uma ótima vantagem —o título ainda está indefinido—, graças ao extraordinário talento de Otero, para finalizar e nas bolas paradas. Por mais que os defensores tentem se posicionar dentro da área, é impossível conter todas as variações e saber aonde e quando a bola vai chegar —nem Otero sabe—, ainda mais que a bola muda várias vezes de velocidade e de direção. Um terror para a defesa.

A derrota do Cruzeiro —já havia perdido para o Racing, por 4 a 2— serve para diminuir os exagerados elogios que o time recebia. A equipe é boa, porém, igual a várias outras. 

Nesta quarta (4), no Mineirão, é favorito contra o Vasco, mas deve ser um jogo difícil, principalmente, se Paulinho, 17, entrar desde o início. O garoto do Vasco parece ter amadurecido precocemente, enquanto Vinícius Júnior parece um vulcão, com um talento que ninguém sabe quando ou se vai explodir.

O Grêmio é, praticamente, campeão. Continua sendo o melhor time do Brasil, o que mais troca passes, porque tem jogadores, como Luan, Arthur e Maicon. São as características e a qualidade dos melhores atletas que definem o estilo de uma equipe, com a organização e orientação de ótimos treinadores, como Renato Gaúcho.

Não sei o que é pior, a carência, a pouca qualidade técnica, ou o exagero, o oba-oba. O futebol brasileiro vive as duas situações.

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