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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Memórias, lendas e mitos

Versões, lendas e mitos se repetem por gerações, como se fossem eternas verdades

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São Paulo

Todos os laterais cotados para substituir Daniel Alves são fracos para o nível da seleção brasileira. A alternativa seria Marquinhos, uma mistura de lateral direito mais marcador com terceiro zagueiro.

A história do mundo, do futebol e das Copas do Mundo está cheia de lendas, mitos, luzes e sombras.

Muitas versões, não confirmadas ou inventadas, são repetidas por várias gerações. Criam-se verdades, conceitos e lugares-comuns que, às vezes, se perpetuam. Mesmo quando alguém que viveu os fatos, atuando ou como observador, diz o contrário, de nada adianta, nem para reflexão, pois as versões continuam como verdades absolutas.

Jogadores do Brasil em treinamento para a Copa de 1966, disputada na Inglaterra.
Jogadores do Brasil em treinamento para a Copa de 1966, disputada na Inglaterra. - Reprodução

Na Copa de 1966 —eu estava presente—, virou uma verdade que Pelé foi caçado contra Portugal, que, por isso, se contundiu, que o Brasil ficou com um a menos a maior parte do jogo, já que não eram permitidas substituições, e que essa foi a razão da derrota e da desclassificação. 

A marcação sobre Pelé foi de perto, porém, leal, com exceção de um lance violento no fim da partida, quando ele teve de sair. Portugal ganhou porque era muito melhor coletivamente, tinha grandes jogadores, como Eusébio, na época o segundo maior do mundo.

Na Copa do Mundo de 1970, repetem que, na véspera da final contra a Itália, na preleção de Zagallo, estava presente Aymoré Moreira, técnico campeão do mundo em 1962, que trabalhava em uma emissora de televisão, e que ele teria sido determinante na maneira de jogar do Brasil. 

Nunca vi Aymoré no hotel. O observador foi Parreira, que era também auxiliar da preparação física, que assistiu ao jogo entre Itália e Alemanha e fez dezenas de fotos do sistema de marcação do time italiano e as colocou em sequência, como se fosse um desenho animado. Era a tecnologia da época.

Na Copa de 1994, ficou na história que Raí jogou mal, fracassou e foi substituído por Mazinho, porque estava fora de forma. Raí atuou mal porque estava fora de posição. Ele era um meia-atacante artilheiro, brilhante. No Mundial, Parreira o escalou pela direita, marcando o lateral. Não tinha velocidade para fazer isso e chegar ao ataque.

Na Copa de 2006, Parreira novamente errou, ao colocar Ronaldinho pela esquerda e Kaká pela direita, que tinham, como Raí, em 1994, a obrigação de marcar os laterais. Os dois eram magistrais meias-atacantes, no Barcelona e no Milan, e não tinham condições, como Raí, de fazer as duas funções. Não marcaram nem chegaram à frente.

Mas a culpa toda do fracasso foi para a concentração de Weggis, na Suíça, quando havia grande número de torcedores, que, em alguns momentos, chegavam a invadir o gramado. Isso aconteceu muitas outras vezes, quando o Brasil venceu e brilhou. 

O maior dos mistérios, o que teve mais versões, foi a provável convulsão de Ronaldo, antes da final da Copa de 1998. Faltam ao futebol brasileiro duas reportagens aprofundadas. Uma sobre a convulsão de Ronaldo e outra sobre o ambiente, os gestos, as caretas e as palavras de Felipão no intervalo do 7 a 1.
Há dezenas de outros exemplos. Com o tempo, muitas versões confundem a realidade com a ficção. 

Além disso, esquecemos, reprimimos e sublimamos muitas coisas que estão em nossa memória, e o que recordamos, com frequência, não é um retrato exato dos fatos. Lembramos as coisas do jeito que gostaríamos que tivessem acontecido.

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